quarta-feira, 30 de julho de 2008

Uma visita ao mundo da diplomacia

No início de março deste ano, enquanto acabava de escrever minha coluna semanal no Notisul, minha filha entregou-me um envelope com o carimbo do Ministério das Relações Exteriores, o famoso Itamaraty. A carta era assinada por dois embaixadores. Tratava-se de um convite para participar, no mês seguinte, de um Seminário Internacional sobre a China, organizado pelo próprio Itamaraty. O Seminário queria reunir personalidades, diplomatas, intelectuais e professores dos cursos de Relações Internacionais, Ciência Política, História e Economia. Fiquei muito feliz em receber tal convite. Minha alegria aumentou ao saber que o Seminário aconteceria na Cidade Maravilhosa: o Rio de Janeiro! Por incrível que possa parecer, ainda não conhecia pessoalmente o Rio, mesmo residindo há quase 12 anos no Brasil. Dias depois, recebi outra boa notícia: no Seminário seria lançado meu primeiro livro, resultado da minha tese de Doutorado. O título: “Diplomacia e Religião – Encontros e Desencontros nas relações entre Santa Sé e República Popular da China de 1949 a 2005”.

Cheguei ao Rio um dia antes do início do Seminário, pois queria aproveitar para conhecer a cidade. Pena que foi bem na época da epidemia da dengue. Mas o medo da doença não me impediu de aproveitar ao máximo a estada na cidade. Munida de um bom repelente, pude passear um pouco pelas famosas avenidas de Copacabana e pelo bairro de Ipanema.

A primeira vez que vi, pela televisão, os elegantes bairros de Copacabana, Leblon e Ipanema foi numa das primeiras novelas brasileiras que chegou à televisão italiana: Dancing Days. Lembro que, ainda menininha, eu, meus irmãos e primos após fazermos as tarefas da escola, assistíamos à novela imergindo-nos naquele mundo tão distante e diferente. Mais tarde, as histórias dramáticas dos meninos de rua mostraram-me o lado menos poético do Rio de Janeiro. Já morando no Brasil, e acompanhando as crônicas da cidade, infelizmente este lado trágico do Rio continuou a sobressair. Talvez fosse por isso que, até este ano, nunca viajara para lá. Contudo, as sensações mágicas desta cidade, saboreadas por meio das belíssimas músicas de Vinicius de Moraes, Chico Buarque e outros, despertavam uma grande curiosidade. E não fiquei decepcionada. Ao lado das praias tropicais e da natureza exuberante, o que me fascinou profundamente foram as riquezas históricas da cidade. Pude muito apreciá-las durante o Seminário, realizado no antigo palácio Itamaraty, no coração da cidade. O elegante jardim que envolve o palácio me levou aos tempos da chegada da monarquia portuguesa, aos anos da fundação da República do Brasil. Os salões do palácio eram imponentes, majestosos. Lá estava eu, sentada à longa mesa - cheia de microfones e copos de águas - em meio a diplomatas brasileiros, chineses, americanos, argentinos. Ao nosso redor e na sala contígua, centenas de jovens estudantes escutavam o debate sobre a China: a nova potência mundial que cada dia mais surpreende e assusta o mundo. No início, fiquei um pouco temerosa por ter que falar diante de tantos embaixadores e professores ilustres. Afinal, eles podiam contar com décadas de experiência no mundo diplomático e acadêmico. Em comparação a eles, sentia-me uma debutante. No entanto, logo me impressionou a simplicidade e afabilidade deles. Quando meu livro foi distribuído a todos os participantes, recebi elogios por ter escolhido um tema inovador e complexo. Fala-se muito da economia da China, do seu PIB, crescimento urbano, mas outros aspectos passam despercebidos: suas raízes históricas, culturais e religiosas são pouco debatidas. No meu livro, procurei entender quais foram e quais são as dificuldades encontradas pelo povo chinês diante da difusão da religião católica no seu território; como a religião sobreviveu às fases críticas da diplomacia entre o governo de Pequim e a Santa Sé; quais foram os passos dados, as ocasiões de encontro perdidas entre o cristianismo, religião universal de dois mil anos, e o Império chinês, de cinco milênios. É uma questão aberta e, por tal razão, envolvente, apaixonante. O livro está disponível no site da editora: www.funag.gov.br.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sidney 2008 - 23° Jornada Mundial da Juventude

Concluiu-se domingo, dia 20, a 23ª Jornada Mundial da Juventude, o maior evento católico juvenil no mundo. É a segunda vez que o papa Bento XVI encontra-se com os jovens dos cinco continentes. Ele quis dar continuidade à tradição criada por seu predecessor.

João Paulo II teve a idéia de instituir as Jornadas Mundiais da Juventude durante a Missa do Domingo de Ramos de 1983, surpreendido pela grande afluência de jovens na Praça de São Pedro: cerca de 250 mil. Para o papa, as jornadas teriam o objetivo de “alimentar a fé por meio do encontro de coetâneos de diferentes países e da comunhão das respectivas experiências”. No início, a proposta do pontífice não recebeu o apoio esperado, principalmente dentro da própria igreja católica. Muitos bispos a contrastaram. Mas, na 1ª Jornada Mundial da Juventude, realizada em Roma, no ano de 1986, os “opositores” tiveram que reconhecer o sucesso da intuição de João Paulo II. Naquela jornada, eu estava entre os milhares de participantes e, apesar de não gostar muito de aglomeração de multidões, foi uma experiência inesquecível. A partir daquele ano, as Jornadas Mundiais da Juventude percorreram o mundo, alternando os encontros em Roma e fora da Itália. Buenos Aires (Argentina), 1987; Santiago de Compostela (Espanha), 1989; Czestochowa (Polônia), 1991; Denver (EUA), 1993; Manila (Filipinas), 1995; Paris (França), 1997; Toronto (Canadá), 2002; Colônia (Alemanha), 2005, foram as cidades escolhidas pelo papa João Paulo II. Em 2005, em Colônia, no seu lugar estava o novo papa Bento XVI. De novo, dentro da igreja católica, começou a se duvidar do sucesso das Jornadas Mundiais da Juventude, principalmente porque se pensava que Bento XVI, não possuindo as mesmas características midiáticas do seu predecessor, pudesse, de alguma forma, decepcionar a juventude. Também desta vez, as dúvidas logo se dissiparam. O papa Bento XVI conquistou os jovens com a inteligência aguda e penetrante de suas comunicações e, sobretudo, pela extraordinária capacidade de estabelecer um relacionamento pessoal com seus ouvintes, mesmo no meio de uma multidão. No primeiro encontro com ele, muitos jovens afirmaram: “Antes, viajávamos para ver o papa, agora viajamos para escutá-lo”. Sidney foi a primeira cidade escolhida por Bento XVI. Uma escolha à primeira vista difícil, pela distância geográfica (20 horas de avião da Itália), e pela distância da tradição religiosa. Como o próprio Bento XVI afirmou, a Austrália é um dos países mais secularizados do planeta. Os católicos representam somente cerca de 26% da população. Na véspera da Jornada Mundial da Juventude, os jornais australianos publicaram o temor da população diante da invasão dos jovens. Mas, também este ano, a Jornada Mundial da Juventude foi um sucesso. Chegando de barco, na baía de Sidney, o papa Bento XVI foi acolhido por 200 mil pessoas. O dobro - cerca de 400 mil pessoas ou até um pouco mais - participou da missa no domingo, dia 20, realizada no hipódromo de Randwick. Participaram da jornada cerca de 225 mil jovens, dos quais 125 mil da Austrália e os outros 100 mil provenientes do resto do mundo. O lema do encontro foi "Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1, 8). O papa Bento XVI inovou na comunicação com os jovens. Se, até agora, o papa comunicava-se com seu povo por meio de encíclicas, cartas apostólicas, exortações, discursos oficiais, neste encontro, o papa usou um novo meio: o SMS ou torpedo, como são conhecidas no Brasil as mensagens enviadas por celular. Todo dia, Bento XVI, assinando o torpedo com a sigla BXVI, enviava mensagens aos participantes, convidando-os a viver o lema da jornada. No primeiro dia, ele escreveu: “O Espírito Santo é o principal agente da história da salvação; deixe-o escrever também a história de sua vida - BXVI”. A cidade de Sidney, futurista e secularizada, deixou-se envolver pelo entusiasmo dos milhares de jovens e por um papa que rompe protocolos e preconceitos, surpreendendo com um carisma todo próprio que não imaginávamos que ele tivesse.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A genialidade de Nicolas Sarkozy

No domingo passado, aconteceu em Paris o lançamento de uma nova organização internacional, inspirada no modelo da União Européia: a União pelo Mediterrâneo. Foi uma iniciativa do presidente francês, Nicolas Sarkozy, em favor da cooperação e da paz mundial. Já no dia após a sua eleição, em maio do ano passado, ele anunciou o sonho de reunir os países banhados pelo Mediterrâneo – os da União Européia, da África e do Oriente Médio - para construir um espaço de segurança, solidariedade e justiça; lugar de discussão para resolver os grandes desafios da mudança climática, do acesso à água e energia, o problema da migração, o diálogo entre as civilizações, numa região estrategicamente importante do ponto de vista político e econômico. No sul do Mediterrâneo originam-se ameaças à paz, e um fluxo continuado de imigração. Mas também é de lá a metade das importações de energia.

Desde a antiguidade, a região do Mediterrâneo foi espaço de encontro entre três continentes: a Europa, a África e a Ásia. Foi o teatro privilegiado das grandes civilizações: da civilização da Babilônia, à civilização grega, à romana e de intensas relações comerciais. Lugar de encontro, portanto, mas, também, de desencontros.

Ainda hoje, o conflito entre Israel e Palestina é uma das maiores preocupações para a estabilidade desta parte do mundo. Foi justamente a vontade de contribuir para a resolução dos conflitos e das tensões internacionais nesta área, que levou o presidente francês a propor a criação desta organização. Pelo número de chefes de estado e de governo que aderiram à iniciativa podemos deduzir que a França não é a única a desejar o restabelecimento de uma paz duradoura na região. Foram bem 43 os países que aceitaram o convite francês para participar do lançamento da primeira cúpula da União pelo Mediterrâneo. São os 27 da União Européia, junto com Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Líbano, Marrocos, Mauritânia, Síria, Tunísia, Turquia, Albânia, Croácia, Bósnia-Erzegovina, Montenegro, Mônaco, além da participação do Presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

A abertura da cúpula foi premiada com dois acontecimentos históricos: o primeiro, o aperto de mão entre o presidente libanês Suleiman e o presidente da Síria, Bashar al Assad, ato este que abriu a estrada para a retomada das relações diplomáticas entre os dois países. Os dois presidentes anunciaram a abertura de suas respectivas embaixadas em Damasco e Beirute. Este avanço diplomático marcou o fim de anos de isolamento internacional do governo da Síria, acusado de ter sido o mandante do assassínio do ex-primeiro ministro libanês Hariri, morto em 2005.

Outro evento histórico, realizado com a mediação francesa, foi o encontro entre o presidente palestino Mahmoud Abbas, conhecido também com o nome de Abu Mazen, e o primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert. Após a conclusão do encontro, no qual Israel prometeu a liberação de um grupo de presos palestinos, Olmert e Abu Mazen pronunciaram-se positivamente sobre um possível acordo de paz.

Olmert afirmou que Israel e os palestinos nunca estiveram tão próximos de um acordo de paz. De sua parte, o presidente da Autoridade Nacional Palestina sublinhou que o acordo de paz entre eles é a base fundamental para alcançar a estabilidade mundial, expressando o desejo que, com a ajuda da França, se possa chegar à paz antes do final do ano.

Com estas felizes premissas, a iniciativa de Sarkozy ganhou ainda mais força. Logicamente, os apertos de mão e as promessas não são suficientes para garantir efetivas mudanças nos conflitos. O ceticismo e a desconfiança continuam. Se pensarmos no caso de Israel e da Palestina, logo se percebe que a vontade política de seus governantes deve ser acompanhada de uma mudança radical nas próprias populações, acostumadas a alimentar o ódio e o desejo de vingança. Contudo, como afirmou Sarkozy, “o pior é não fazer nada, deixando espaço para as injustiças e exasperações dos povos”. Ocorre lutar, e lutar juntos. Iniciativas como essas, demonstram que, não obstante os conflitos e as tensões internacionais, o mundo tende à unidade.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ingrid Betancourt - um sorriso desconcertante

No dia 2 de julho, Ingrid Betancourt, refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), foi finalmente libertada após 6 anos e 4 meses de cativeiro. Mérito de uma espetacular operação militar do governo da Colômbia. As imagens de sua chegada e as suas primeiras palavras emocionaram o mundo. Surpreenderam o rosto sereno, o sorriso meigo e, ao mesmo tempo, a explosão da força vital de uma mulher que conseguiu vencer uma batalha que parecia invencível. Tais imagens contrastavam com suas últimas fotos, que a retratavam doente na selva, aparentemente vencida, fechada num silêncio desesperado. Para ela e os outros 14 reféns, o dia 2 de julho representou o fim de um pesadelo. Destes 14 reféns, três são americanos, os outros são militares colombianos, reféns havia cerca de 10 anos. Um destes, que era também enfermeiro, cuidou de Ingrid durante a fase aguda de sua doença. Em meio a violências físicas e psicológicas praticadas pelos guerrilheiros, a solidariedade entre os reféns sobreviveu. No período em que ela não conseguia mais se alimentar, o soldado enfermeiro cuidou dela de uma maneira extraordinária. Ingrid contou que ele a alimentava da mesma forma que uma mãe faria com a própria criancinha, convencendo-a a comer com a seguinte frase: “Uma colher para Melanie, uma para Lorenzo...”. Melanie e Lorenzo são os filhos de Ingrid, hoje adultos, e que, na época de seu seqüestro, estavam com 16 e 13 anos respectivamente. Seus filhos conseguiram convencer a diplomacia francesa a pressionar o governo colombiano em favor da libertação de Ingrid. Nos últimos anos encontraram um forte aliado em Nicolas Sarkozy. Graças ao apoio dos filhos e da mãe de Ingrid, que todos os dias lhe enviava mensagens via rádio, encorajando-a a não desistir, Ingrid conseguiu lutar momento após momento contra a tentação de desistir, de se deixar morrer. “A morte é a companheira mais fiel de um refém, a tentação do suicídio é cotidiana”, afirmou ela nestes primeiros dias. A vida recomeçou e pelo, que se percebe de suas primeiras entrevistas, recomeçou para valer. Por enquanto, seu primeiro objetivo é recuperar o tempo perdido com os filhos, descansar com eles e com sua família, viajar pela França, onde ela viveu por mais de dez anos. Na Itália, será recebida pelo papa Bento XVI. Ingrid afirmou que sua libertação é um milagre de Nossa Senhora, e agradeceu-a na Capela da Virgem Milagrosa, em Paris. Além do apoio de seus familiares, ela afirmou ter conseguido sobreviver graças à fé, acreditando sempre no amor de Deus. A impressão deixada por uma mulher que é frágil e forte ao mesmo tempo é a de uma heroína, como Nelson Mandela, ao feminino. Ela declarou que após o descanso necessário para revigorar as forças físicas e psíquicas, seu objetivo é voltar à política para servir ao povo colombiano. Quer retomar sua luta política, interrompida com seu seqüestro em novembro de 2002, quando ela disputava a presidência da República da Colômbia. Disse que lutará pela libertação dos reféns que ficaram nas mãos dos guerrilheiros.

Durante os anos de seu cativeiro, a Colômbia alcançou maior estabilidade e segurança. O governo de Álvaro Uribe, baseado na linha dura contra a guerrilha das Farc, ganhou a aprovação de 80% da população colombiana. Segundo analistas políticos colombianos, as Farc estão perdendo força. Fontes oficiais relatam que mais de 9000 combatentes das Farc abandonaram a guerrilha nos últimos anos. A morte de seus chefes mais importantes e a perda de reféns estrategicamente relevantes - como Ingrid Betancourt e os três americanos libertados com ela – são sinais importantes de enfraquecimento dos guerrilheiros. Mas a luta deve continuar e Ingrid quer retomar seu lugar no cenário político colombiano. Ela conquistou o carinho e o apoio do povo colombiano. Aliás, o mundo inteiro parece ter exultado à notícia de sua libertação. A imagem desconcertante do sorriso gracioso de Ingrid Betancourt após tantos anos no cativeiro parece ter penetrado no coração do mundo.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Nelson Mandela - a dignidade acima de tudo

Na sexta-feira passada, dezenas de artistas internacionais homenagearam Nelson Mandela em um show no Hyde Park, em Londres. Mais de 50 mil pessoas participaram. Ao receber os parabéns pelo seu nonagésimo aniversário, o líder sul-africano comoveu-se.

Certamente, diante da homenagem de tantas pessoas, Mandela deve ter relembrado sua vida e as dificuldades pelas quais passou nestes 90 anos.

Nelson Mandela nasceu em 1918, numa família nobre de sua tribo. Quando ficou órfão do pai, aos 12 anos, foi entregue aos cuidados do chefe da tribo. Aos 22 anos, para livrar-se de um casamento combinado, fugiu de casa mudando-se para Johannesburg. Formou-se em direito. A partir daí, sua história pessoal começa a entrelaçar-se com a tumultuosa história de seu país: a África do Sul. Como todas as nações africanas, a África do Sul foi sujeita à colonização européia: os holandeses primeiro, substituídos, depois, pelo Reino Unido. Em 1911, a minoria branca, constituída por descendentes de britânicos e Afrikaneers (descendentes dos imigrantes holandeses), promulgou uma lei conhecida como “Ato das Terras Nativas”, que consolidou seu poder sobre a população negra. Esta lei obrigava os negros a viverem em reservas especiais, cuja extensão ocupava somente 13% do território. O resto das terras (87%) seria ocupado pela minoria branca. Era a semente do Apartheid (regime de segregação racial da minoria branca em relação aos negros) que se oficializou em 1948, com a vitória do Partido Nacionalista. O regime do Apartheid negava à população negra o direito de participar da vida política (nas eleições de 1948, votaram somente os brancos). Os negros ficaram excluídos do acesso à propriedade das terras, além de serem obrigados a viver em regiões residenciais segregadas. Casamentos entre raças diferentes também eram proibidos.

Nelson Mandela, já em 1942, uniu-se ao partido de oposição, o Congresso Nacional Africano (CNA), para combater pelos direitos de seu povo. Junto com um amigo advogado, começou a dar assistência legal gratuita ou a baixo custo aos negros que não podiam pagar um advogado. Os primeiros anos de sua luta política foram inspirados nos princípios da não-violência do indiano Gandhi. Contudo, diante do massacre de Sharpeville, em 21 de março de 1960 – quando a polícia sul-africana matou 69 participantes de uma manifestação pacifista, e feriu outras 180 pessoas –, Mandela decidiu aderir à luta armada. Foi nomeado comandante da força paramilitar da oposição. Liderou ações de sabotagem contra as forças governamentais que baniram o partido de oposição, CNA, e os grupos contra o apartheid.

Em 1962, Nelson Mandela foi preso por sabotagem e conspiração. Em 1964, foi condenado à prisão perpetua. Na década de 1970, o Partido Nacionalista recrudesceu as políticas anti-raciais. A população negra foi separada, classificada em grupos étnicos e confinada em territórios distantes das cidades, os chamados bantustões. Desta forma, o governo tentava afastar os negros da educação ocidental, garantindo mão-de-obra para as indústrias dos brancos. Da prisão, Nelson Mandela continuou encorajando as forças de oposição. Ele tornou-se símbolo da luta contra o Apartheid, não somente na África do Sul, mas no mundo todo. Mantendo sua integridade moral, em 1970 recusou a revisão da pena e, 15 anos depois, não aceitou a liberdade condicional, pois seria obrigado a renunciar à sua luta contra a segregação racial.

Em 1989, a eleição de Frederik de Klerk marcou o início de algumas mudanças no país. De Klerk mostrou-se sensível às pressões internacionais que pediam insistentemente a libertação de Nelson Mandela. Em 1990, o presidente assinou a revogação das leis anti-raciais e a autorizou a libertação de Nelson Mandela. Quatro anos depois, em 1994, foram realizadas as primeiras eleições multirraciais da história da África do Sul. Nelson Mandela foi eleito presidente, o primeiro presidente negro do país.

Após décadas de isolamento diplomático internacional, a África do Sul tornou-se um dos países estrategicamente mais importantes do cenário internacional. Graças, também, ao trabalho e exemplo de um homem chamado Nelson Mandela.