quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Instituto Universitário Sophia - Projeto-piloto de uma nova universidade

Nas últimas linhas da minha coluna da quarta-feira passada, citei uma experiência inovadora: a inauguração, na Itália, no dia 1º de dezembro, do Instituto Universitário Sophia. Qualifiquei tal evento como motivo de esperança no âmbito internacional. Vamos descobrir o porquê. No seu primeiro ano de atividade, o Instituto Sophia oferecerá um mestrado em “fundamentos e perspectivas de uma cultura da unidade”, com duração de dois anos e, posteriormente, será oferecido um doutorado. A primeira turma é formada por 40 estudantes, provenientes de 16 países de cinco continentes.

No primeiro ano, os cursos serão organizados em quatro áreas fundamentais: teologia, filosofia, ciências do viver social e racionalidade lógico-científica. No segundo ano, será possível escolher entre o campo teológico-filosófico e político-econômico. A internacionalidade dos alunos estende-se também ao corpo docente, altamente qualificado. O reitor do instituto, Piero Coda, é professor de Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma e presidente da Associação Teológica Italiana.

Entre os professores, Antonio Maria Baggio, de ética social na Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; Luigino Bruni, professor de economia política na Universidade de Milão; Judith Povilus, ex-professora de matemática na De Paul University de Chicago (Ilinois - USA); Sérgio Rondinara, professor de filosofia da ciência na Faculdade de Filosofia da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma; e Gerard Rossé, professor de exegese do Novo Testamento na Escola de La Foi, de Friburgo, Suíça. O novo instituto foi criado na pequena cidade de Loppiano, nos arredores da belíssima Florença, e foi instituído pela Congregação da Educação Católica da Cidade do Vaticano, por decreto do dia 7 de dezembro de 2007.

A nova instituição nasceu no contexto do Movimento dos Focolares, movimento católico espalhado no mundo inteiro, fundado por Chiara Lubich, falecida no dia 14 de março passado. A fundação de uma universidade fazia parte de um sonho que Chiara Lubich alimentava desde os anos 60: o de ver nascer uma realidade acadêmica para ensinar a doutrina da unidade. Ela estava convicta de que o carisma da unidade - carisma do Movimento dos Focolares - possuía em si a possibilidade de gerar uma doutrina capaz de iluminar os diversos âmbitos do saber. O Instituto Sophia (do grego, sabedoria) nasceu com o objetivo de ser um laboratório de diálogo entre povos e culturas diversos: um centro de formação, mas, também, uma escola de vida.

Piero Coda, reitor do instituto, explicou: “É uma odisséia comprometedora, mas fascinante da qual sentíamos necessidade, ao perceber a crise da instituição universitária. Hoje, não são necessárias faculdades especializadas, mas locais onde se recompõe o saber no respeito da autonomia de cada disciplina. O corpo docente é composto por um grupo de professores estáveis assessorados por professores visitantes e assistentes. A novidade está no método formativo aplicado: o encontro e a unificação entre estudo e vida. No futuro, prevemos a abertura de sedes da Sophia em diversas partes do mundo. A nossa universidade é aberta a qualquer pessoa, de qualquer convicção religiosa. Os futuros diplomados serão homens-mundo, com coração e mente abertos, que trabalham para construir uma nova cultura e uma nova sociedade e sabem orientar-se e governar a complexidade do mundo”.

As palavras do reitor parecem ecoar uma definição de universidade proferida em 2007 pelo papa Bento 16, em ocasião do encontro com representantes de universidades européias: “As universidades não devem nunca perder de vista seu chamado particular a ser universitas nas quais as várias disciplinas, cada uma de sua maneira, sejam consideradas parte de um unum maior. Quanto é urgente a necessidade de redescobrir a unidade do saber e de contrastar a tendência à fragmentação e ausência de comunicabilidade!”. Mais informações sobre o Instituto Universitário Sophia em: http://iu-sophia.org.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Luto nacional e internacional

A última semana foi marcada pela morte de tantas pessoas, aqui em Santa Catarina, bem perto de nós, e de tantas outras um pouco mais longe, na Índia e na Nigéria. Assim como tentamos entender o porquê das calamidades naturais que atingiram os nossos irmãos catarinenses, queremos entender, na medida do possível, quais as causas que provocaram a morte de tantos irmãos indianos, americanos, britânicos, israelenses, africanos, também nos últimos dias.

Na Índia, a capital financeira do país, Mumbai, foi atingida por sete ataques simultâneos que provocaram a morte de 195 pessoas, muitas das quais eram estrangeiras. Os alvos dos ataques terroristas foram os famosos hotéis Taj Mahal e Oberoi-Trident, a estação ferroviária principal, o centro judaico, um restaurante, um hospital e um condomínio, todos locais frequentados prevalentemente por estrangeiros, principalmente americanos, britânicos e israelenses.

Em um primeiro momento, os ataques foram reivindicados por um grupo desconhecido, chamado Mujahidem do Deccan, mas a confissão do único terrorista sobrevivente revelou que quem organizou os atentados terroristas foi um grupo chamado Lashkar-e-Taiba, o mesmo que, em 2001, foi responsável pelo atentado ao Parlamento Indiano. Tal grupo teria sua base em território paquistanês e seria formado por extremistas islâmicos que lutam pela região da Caxemira. Em 1947, a região foi doada à Índia pelo marajá de Caxemira em agradecimento pela ajuda recebida pelo exército indiano. Desde então, o Paquistão reclama este território habitado em prevalência por muçulmanos.

A rivalidade entre indianos e paquistaneses já provocou três guerras e fomentou a corrida dos dois países para obter armas nucleares. Numerosas são as hipóteses formuladas para explicar este novo atentado que chocou a cidade mais conhecida e próspera da Índia. As mais convincentes parecem ser a de expulsar investidores estrangeiros, minando a confiança dos investidores ou a de interromper as recentes tentativas de cooperação contra o terrorismo iniciadas pelo governo indiano e pelo novo presidente paquistanês, Asif Ali Zardari.

De fato, diante da descoberta da responsabilidade do grupo terrorista paquistanês, o governo indiano acusou imediatamente as autoridades de Islamabad de serem indiretamente responsáveis pelos atentados. O governo indiano acusou Zardari de não ser capaz de controlar os próprios serviços segredos paquistaneses, aos quais os terroristas parecem estar ligados. Tal acusação não é infundada, visto que o país está há décadas imerso numa infinda guerra civil, que não permite aos governantes o controle pleno do país.

A Índia é um país complexo. A unidade na diversidade que Gandhi sonhava construir não se realizou plenamente. Ao lado da modernização tecnológica, existem cerca de 150 milhões de muçulmanos que representam a parte mais pobre e menos instruída da população indiana. Onde existe desigualdade econômica e discriminação social, a rivalidade é inevitável. Frequentemente, as religiões são acusadas de serem as principais responsáveis pelos conflitos, mas elas servem também para encobrir outras causas.

No caso da Nigéria, uma das regiões mais pacíficas do país foi palco de conflitos violentos que provocaram a morte de quase 400 pessoas e deixaram dez mil desalojadas. Os meios de comunicação internacionais logo apontaram como causa da violência a rivalidade entre muçulmanos e cristãos. Mas o Arcebispo de Ajuba, capital da Nigéria, Mons. John Onayekan, afirmou que os motivos dos conflitos são políticos e não religiosos. A causa dos conflitos, apontada pelo Arcebispo, é a disputa pelo controle do poder, resultado de contrastes políticos por ocasião das eleições regionais.

O âmbito religioso é território fértil para o surgimento de radicalismos, mas é também espaço privilegiado para iniciativas de conciliação. Nesta semana de luto internacional, é motivo de esperança a inauguração, na Itália, no dia 1º de dezembro, do Instituto Universitário Sophia: universidade que tem como objetivo maior a construção da cultura da unidade. Mas sobre isso trataremos na próxima semana.