terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Itamaraty e a comunidade acadêmica

Nos dias 8 e 9 de outubro, realizou-se na cidade do Rio de Janeiro, no Palácio Itamaraty (antiga sede do Ministério das Relações Exteriores), o I Seminário de Alto Nível sobre Política Externa, organizado pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre Gusmão (FUNAG), fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.

O evento reuniu Chefes de Departamentos do Ministério das Relações Exteriores (Embaixadores), que proferirem palestras sobre temas de política externa. Tive a honra e o prazer de participar dessa reunião junto com cerca de outros vinte docentes provenientes das mais variadas universidades do Brasil, do norte ao extremo sul, como era o meu caso, representando a Universidade Federal do Pampa, campus Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai.

O Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, deu-nos as boas-vindas também em nome do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que teve a feliz ideia de promover a aproximação entre o mundo diplomático e a comunidade acadêmica. Logo percebi que se tratava de um evento diferente dos outros aos quais havia participado anteriormente. Tal percepção foi confirmada pelas palavras do Presidente da FUNAG, o Embaixador Jerônimo Moscardo, que nos alertava quanto à novidade desse evento. Pela primeira vez, assuntos de política externa do Brasil, tradicionalmente reservados aos diplomatas do Itamaraty, foram comunicados à comunidade acadêmica, cujos representantes apresentaram suas dúvidas, curiosidades, questionamentos, reflexões. Tal abertura é uma boa novidade que confirma o grau de maturidade alcançado pelo Brasil em termos de política externa.

Os dois dias do evento caracterizaram-se por uma rica reflexão e aprofundamento de vários aspectos da vida política e econômica do Brasil em relação ao resto do mundo. Foram abordados temas relevantes como a Reforma do Conselho de Segurança da ONU, e a possibilidade, por meio de tal reforma, da admissão do Brasil a ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Outro tema foi a Integração Sul-americana que tratou principalmente sobre o passado, presente e futuro de organizações regionais como o Mercosul e a mais recente Unasul, de profunda relevância para o crescimento de toda a América do Sul.

Foi destacada a presença positiva do Brasil na missão humanitária junto ao Haiti e a contribuição dada pelo país a diversas organizações regionais como o G-4, G-20, o IBAS (grupo de cooperação entre Brasil, Índia e África do Sul) e o BRIC (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China).

As palestras envolveram outros temas internacionais como, o grande desenvolvimento da China e Índia, novos e importantes atores internacionais. A esse respeito, o Embaixador Roberto Jaguaribe, Subsecretário-Geral de Política II do Ministério das Relações Externas para Ásia, África, Oceania e Oriente Médio, fez uma interessante comparação entre a evolução histórica, política e econômica da China e de sua vizinha Índia, explicando, também, as boas relações do Brasil com esses dois países. Os temas das Comunidades Brasileiras no Exterior – que envolveu a explanação e a aparente resolução dos recentes incidentes diplomáticos com a Espanha; o da Crise Internacional; da Cooperação Sul-Sul; da Energia e da Ciência, Tecnologia e Inovação nos ajudaram a compreender os desafios que o Brasil, como país emergente, enfrenta no seu anseio de se tornar um dos protagonistas no novo cenário internacional.

Evidentemente, há muitas dificuldades a serem vencidas para que o Brasil possa se afirmar como sujeito de relevo da ordem internacional. Isso, devido, principalmente, à desconfiança e receio das tradicionais potências que até hoje detêm o poder. Se não fossem as mudanças internacionais dessas últimas décadas, que provocaram uma grave crise nas economias tradicionais, obrigando tais potências a se abrir e aceitar eventuais mudanças nas regras do jogo internacional, elas certamente não estariam dispostas a compartilhar o poder com as novas potências emergentes. Até então, tais potências conseguiram se afirmar graças aos tradicionais recursos de poder, o assim chamado hard power (poder duro), ou seja, as armas, os recursos naturais, a grande população e as grandes extensões de território.

O Brasil está conquistando seu espaço não apenas por meio de alguns recursos tradicionais, como o grande território e a riqueza dos recursos naturais, mas, sobretudo, por meio do seu savoir-faire, como diriam os franceses, ou, se quisermos usar uma linguagem mais acadêmica, por meio de outros recursos de poder, como o soft power (poder suave), que consiste no poder de convencimento, por meio do conhecimento, tecnologia, ideias e valores. Os brasileiros estão conquistando espaço, aproveitando do imaginário de alegria, simpatia, descontração que sempre fez e continua fazendo sucesso no Velho Mundo. Mas só a simpatia não seria suficiente.

Num momento em que a superpotência americana está perdendo um pouco de sua hegemonia, as mudanças positivas da política externa de Lula e do seu excelente chanceler, Celso Amorim, permitiram ao Brasil levantar sua autoestima, negociando de igual para igual com os até então “grandes” da terra. Ninguém está disposto a ceder espaço ou poder, é preciso sabê-lo conquistar e o Brasil está dando passos inteligentes nesse caminho.

domingo, 4 de outubro de 2009

Entrevista Rádio CBN

Fato em Foco
Os 60 anos da República Popular da China - parte I
Ouça a primeira parte do programa, com Bernardo Kocher, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, e Anna Carletti, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa.