quinta-feira, 22 de abril de 2010

O futuro das relações entre a Polônia e a Rússia (conclusão)

Para o professor Pomianowski, o incidente aéreo de Smolensk é mais que um evento dramático, é também o resultado da diferença de opinião no campo político do grupo ligado ao falecido presidente Kaczynski e o primeiro-ministro Donald Tusk. De fato, o presidente polonês, justamente pelas dificuldades de relação com as autoridades russas, recusou-se de participar da comemoração junto ao primeiro-ministro Putin e o primeiro-ministro Donald Tusk, preferindo comemorar o massacre com uma delegação separada constituída apenas de poloneses. Quanto ao futuro das relações entre os dois países, segundo o professor Pomianowski, o primeiro-ministro Donald Tusk está perseguindo uma política feita de pequenos passos rumo a uma normalização das relações entre a Polônia e seu poderoso vizinho russo.

Após a derrota do candidato pró-ocidental na Ucrânia, a Polônia considerou necessário encontrar uma língua política comum compreensível pela Rússia e pela Polônia, decisão que levou o país a aceitar algum tipo de compromisso como a aprovação do acordo entre a PCNig (companhia energética estatal polonesa) e a companhia russa Gazprom, que obrigaria a Polônia a importar gás e petróleo apenas da Rússia até 2037. Segundo o prof. Pomianowski, tal compromisso contraria o estatuto da União Europeia, da qual a Polônia é membro, que requer que cada integrante importe matérias primas estratégicas de um único fornecedor por no máximo 33%. Comentando o acordo russo-polonês, o pesquisador Pomianowski afirmou: “Os canhões foram substituídos pelo gás e por matérias-primas estratégicas que são atualmente um instrumento de pressão muito mais importante que as ações bélicas”.

Apesar disso, o professor Pomianowski se diz otimista quanto ao futuro das relações entre os dois países. A Comissão mista na qual trabalha está tentando remover obstáculos históricos e políticos que impediram até então uma aproximação dos dois países, e o reconhecimento, por parte do primeiro-ministro russo, de suas responsabilidades nacionais pelo massacre de Katyn, sem dúvida ajudará muito em tal processo de aproximação binacional.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O futuro das relações entre a Polônia e a Rússia (1)

A morte do presidente polonês Lech Kaczinsky e de sua esposa, Maria, em um acidente aéreo que provocou também o falecimento de várias personalidades políticas, militares e religiosas do país, provocou sentimentos de desespero e perda entre os cidadãos poloneses. As eleições presidenciais, previstas para outubro, deverão ser antecipadas para o fim de junho. Segundo as palavras do primeiro-ministro Donald Tusk: “É o evento mais trágico na história da Polônia no pós-guerra”.

Paradoxalmente, a tragédia ocorreu justamente quando o povo polonês comemorava o 70º aniversário do massacre de Katyn, localidade próxima à cidade de Smolensk, na Rússia. Neste local, entre o dia 3 de março e 19 de abril de 1940, foram executados quase 22 mil poloneses. Entre eles, apenas oito mil eram prisioneiros militares, o restante era constituído de civis. Por muitos anos, os soldados nazistas foram acusados pela Rússia do massacre, até que, pouco tempo atrás, a abertura de arquivos secretos demonstrou que quem ordenou a barbárie foi o próprio Stalin.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as relações da Polônia com a Rússia foram compreensivelmente marcadas por ressentimentos, resistindo às tentativas de reaproximação da vizinha Rússia. No entanto, uma “comissão mista russo-polonesa para as questões difíceis” foi instituída com o propósito de avançar no entendimento das relações entre os dois países. Nesse sentido, um primeiro sinal positivo de melhoria foi dado no dia 7 de abril, quando o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, encontraram-se lado a lado, na floresta de Katyn, para recordarem a morte de milhares de poloneses pelas mãos de soviéticos.

Segundo o professor polonês Jerzy Pomianowski, membro da comissão mista russo-polonesa, e profundo conhecedor das relações entre os dois países, a presença de Putin no lugar do massacre foi positiva. Para Pomianowski, entrevistado por um jornal italiano (Il Sole 24 ore) logo após a tragédia, “esse fato finalmente expôs aos olhos de todo o povo russo um episódio que até então era quase que desconhecido”. O professor lembrou que, segundo uma recente pesquisa russa, apenas 18% da população do país sabia o que tinha ocorrido em Katyn e que os culpados disso eram os soviéticos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

A origem do conflito entre israelenses e palestinos (conclusão)

Em 1939, a Grã-Bretanha aprovou no Livro Branco a restrição da imigração dos judeus na Palestina, com o objetivo de limitar a crise da região e evitar novas revoltas. Tal decisão, porém, provocou a rebelião dos judeus, que reforçaram suas organizações de extrema-direita com a criação de núcleos como a Irgun (Organização Militar Nacional) e o Lehi (Combatentes pela Liberdade de Israel).

Em 1947, a Grã-Bretanha dirigiu-se à ONU para apresentar a questão palestina. As Nações Unidas prepararam um plano de partilha segundo o qual o território palestino deveria abrigar no seu espaço um estado judeu e um estado árabe-palestino. No entanto, atos de terrorismo entre os dois povos sucediam-se em ritmo incessante, sobretudo após o massacre de 1948 dos camponeses palestinos em Deir Yassin, onde morreram 254 civis palestinos. Tais execuções por parte de grupos paramilitares israelenses objetivavam expulsar maciçamente os palestinos, forçando-os a deixarem suas terras que passavam a ser ocupadas pelos judeus que chegavam de toda a Europa.

O Plano de Partilha da ONU foi votado com 33 votos a favor (entre eles EUA, URSS e os países da América, Europa e Oceania), 13 votos contra (países do Oriente Médio e Ásia) e dez abstenções (entre as quais estava a Grã-Bretanha). O Mandato Britânico extinguiu-se. O estado judeu receberia 14 mil quilômetros quadrados e o Estado palestino 11 mil, situando-se entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. O norte de Israel deveria ser dividido entre os dois. A cidade de Jerusalém ficaria sob administração internacional, por ser considerada como lugar sagrado pelos cristãos, judeus e muçulmanos.

Os judeus aceitaram o plano apresentado pelo brasileiro Osvaldo Aranha, mas os árabes se opuseram à criação de um estado de Israel, argumentando querer proteger os interesses dos palestinos. Em 1948, o mediador da ONU foi assassinado em Jerusalém por sionistas. Os britânicos deixaram definitivamente o território palestino. Os judeus proclamaram dia 14 de maio de 1948 o estado de Israel. No dia seguinte, as forças da Liga Árabe entraram em guerra contra o novo Estado. Em 1950, cerca de 900 mil palestinos refugiados viviam nos campos organizados pela ONU.

Nota-Este artigo baseia-se no livro de Paulo Fagundes Vizentini. Oriente Médio e Afeganistão. Dois séculos de conflitos. Editora Leitura XXI.