terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Entre sombras e luzes a Itália festeja 150 anos de unidade nacional


Fazia três anos que não viajava para a Itália, a saudade era grande, não apenas da família e dos amigos, mas também da minha pátria. É verdade que nesses 14 anos de Brasil adotei outra pátria bem maior e muito mais jovem que meu país de origem, mas de vez em quando é bom voltar às próprias origens, pisar nos lugares da infância, lembrar para fazer um balanço da própria vida.

Férias servem também para isso. Pena que a Itália que encontrei não esteja vivendo uma das suas melhores fases, aliás, acho que, há mais de dez anos, todo ano ela desce um degrau rumo ao fundo do poço, ao menos no que diz respeito ao lado político e econômico. Com efeito, existem duas Itálias, a Itália do turismo, dos lugares encantadores, do sol, do mar, das artes, da música que, por sorte, nunca haverá de sofrer, pois seu fascínio continua incorrupto.

A outra Itália, aquela dos políticos, parece não ter solução. Há 14 anos temos um primeiro-ministro vai e vem, Silvio Berlusconi, que infelizmente é conhecido no mundo inteiro não pelo sucesso de sua estratégia política, mas pelas gafes diplomáticas, pelas televisões que possui e por meio das quais chega forçadamente nas casas de todos os italianos, pelas suas mansões e ainda pelo seu harém de mulheres que ultimamente está lhe custando muito caro.

Atualmente acusado de concussão e prostituição de menores, Berlusconi, mais uma vez, ao invés de se ocupar dos graves problemas do país, coloca todas as suas energias para encontrar estratégias de defesa. Enquanto no Mediterrâneo e mais especificadamente no Egito, a sociedade civil ocupava a maior praça do Cairo para reivindicar a saída do Mubarak, nas praças italianas e de muitas capitais no exterior, milhares de mulheres de todos os partidos (menos o de Berlusconi, que parece ter hipnotizado seus leais seguidores), desciam nas praças para defender a dignidade das mulheres, tratadas pelo primeiro ministro italiano como objetos de prazer e meros enfeites nas famosas festinhas da sua mansão em Arcore.

Afirma um ditado famoso que a esperança é a última a morrer. Mesmo diante desse triste panorama italiano, consegui perceber alguns elementos de esperança: milhares de mulheres que se organizaram contra esse vergonhoso estilo de vida que Berlusconi apresenta todo dia ao seu eleitorado, a ruptura do seu tradicional aliado, Gianfranco Fini que, no dia da fundação do enésimo novo partido italiano, apresentou um novo projeto político de oposição a Berlusconi.

Além disso, é preciso lembrar que a sociedade italiana, mesmo atravessando um dos períodos mais difíceis de sua história, desde o final da Segunda Guerra Mundial, continua sendo o país acolhedor e solidário que sempre foi. De fato, nas últimas semanas, registrou-se um fluxo emergencial de imigrados clandestinos vindos da Tunísia, primeiro país do Magreb a caçar seu presidente. Com a ausência de um governo nacional, milhares de tunisinos pagam uma fortuna para comprar a passagem rumo à Itália, passagem obrigatória para outros países da Europa.

A atitude da Itália foi a de logo encontrar soluções para acolher esses refugiados, montando centros improvisados de recepção, apelando à tradicional solidariedade italiana que parece mais forte que o pessimismo e as polêmicas desse período. Ainda há esperança para uma Itália que, no dia 17 de março 2011, festejará 150 anos de sua unificação.