sexta-feira, 26 de novembro de 2010

China, Japão e Rússia: possíveis choques (parte 2)

Na primeira parte desse artigo foi lembrado o incidente diplomático ocorrido no início de setembro entre China e Japão sobre as ilhas do arquipélago Senkaku, em japonês, e Diaoyu, em chinês, localizadas no noroeste de Taiwan e próximas a Okinawa (sul do Japão). Tal incidente reabriu a ferida, aparentemente já cicatrizada, da disputa das ilhas do sul do pacífico entre os dois países. O mesmo ocorre entre Japão e Rússia a propósito das ilhas Curilas meridionais, localizadas na parte setentrional do Japão, próximas à ilha de Hokkaido. Kunashiri, Etorofu, Shikotan e Habomai, conhecidas também com o nome de “quatro ilhas do norte”, foram colonizadas pelos japoneses desde a primeira metade do século 19.

Disputa pelas ilhas do norte
Em 1855, ano em que Japão e Rússia estreitaram pela primeira vez suas relações diplomáticas, foi assinado um tratado de comércio, navegação e delimitação, conhecido como Tratado de Shimoda. Tal tratado visava delimitar as fronteiras territoriais entre os dois países. Com a derrota do Japão, no fim da 2ª Guerra Mundial, as forças soviéticas invadiram o arquipélago, que foi anexado à URSS, e deportaram todos os moradores japoneses. Contudo, o Japão, continuou a considerar estes locais como parte do seu território, denunciando a ilegalidade da ocupação soviética e obtendo, nessa questão, o apoio incondicional dos Estados Unidos.

Tentativas de paz
De 1945 até hoje, numerosas tentativas de resolução pacífica dessa disputa territorial ocorreram. A primeira foi durante o período de distensão da Guerra Fria, quando Japão e URSS retomaram o diálogo tentando negociar uma paz separada, entre junho de 1955 e outubro de 1956. A segunda, mais recente, foi em 1993, no governo Ieltsin. Os dois governos assinaram a Declaração de Tokyo, que estabeleceu bases de negociação que deveriam permitir a resolução pacífica da questão territorial assim que as relações diplomáticas fossem retomadas. No governo de Vladimir Putin, houve mais uma tentativa de se chegar a um compromisso, propondo a cessão de algumas ilhas do arquipélago ao Japão. E finalmente, seu sucessor, o atual presidente russo Medvedev, sempre declarou-se a favor de uma política de acomodação, até esta visita inesperada na ilha de Kunashiri, que marcou a mudança repentina da política externa russa.

Durante sua visita, Medvedev anunciou que o governo russo iria empenhar-se para melhorar a vida de seus habitantes com a construção de novas casas e envio de mais mercadorias, manifestando com esse discurso a intenção de não querer renunciar a estas ilhas, ricas em peixes, jazidas de petróleo, gás, ouro e prata. A tentativa de recuperar a soberania das ilhas ao norte do Pacífico por parte da Rússia, e ao sul do Pacífico por parte da China é considerada por alguns analistas internacionais como parte de uma estratégia comum dos dois governos em relação ao vizinho japonês. China e Rússia estariam tentando eliminar, ou ao menos mitigar, a influência do Japão na área do Pacífico e, por consequência, controlar a presença norte-americana nessa área do mundo, tradicional aliado do Japão.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

China, Japão e Rússia, possíveis choques diplomáticos (parte 1)

No dia 7 de setembro, ocorreu uma colisão entre um barco pesqueiro chinês e uma embarcação da guarda costeira japonesa nos mares do arquipélago Senkaku, em japonês, e Diaoyu, em chinês. As consequências do que parecia ser um normal incidente foram maiores do que as esperadas, resultando em uma grave crise diplomática entre os dois países. O Japão prendeu o capitão do pesqueiro chinês alegando que o pesqueiro chinês teria intencionalmente atacado a embarcação japonesa e ainda em território japonês.

Essa última declaração contém o núcleo do problema. O arquipélago em questão, formado por oito pequenas ilhas desabitadas, está localizado no noroeste de Taiwan e próximo a Okinawa. O Japão controlou essas ilhas de 1895 até sua rendição após a 2ª Guerra Mundial, quando passaram à administração americana que as devolveu ao Japão em 1972. Taiwan e a República Popular da China reivindicam desde 1971 a posse dessas ilhas por eles descobertas e administradas do século 16 até 1895.

As ilhas são importantes do ponto de vista econômico, pois se trata de área rica em recursos naturais. Geograficamente elas ocupam uma posição estratégica de controle do Sul do Pacífico. China e Japão reivindicam a posse das ilhas, mesmo se é o Japão que exerce o controle de fato sobre o arquipélago. Esse acontecimento provocou a reação popular dos dois países, cada um reivindicando a posse das ilhas. Também Taiwan participou das reivindicações sobre o conjunto de ilhas ricas em peixes e jazidas de petróleo.

Devemos observar, porém, que esse aparente acidente rompeu com uma tradição de acomodamento pacífico entre Japão e China em relação à navegação de barcos chineses nas águas próximas ao arquipélago. Segundo o estudioso japonês Tanaka, houve um acordo nos anos 60 entre China e Japão sobre pesca nas águas limítrofes e em 1978, Deng Xiaoping decidiu adiar a resolução do impasse sobre as ilhas Senkaku-Diaoyu. Daquele momento em diante, o Japão permitiu que os barcos chineses transitassem nas proximidades do arquipélago.

No último período, porém, algo mudou na política externa do atual governo japonês. Sua aliança com os EUA parece empurrar o Japão a criar pretextos para se chocar com a vizinha China. Pretexto que serviria para os Estados Unidos justificarem a presença na área como defensor dos direitos de seu aliado. A situação não melhorou com a última visita do presidente russo, Dimitry Medvedev, à ilha Kunashir, parte das ilhas Curili Meridionais, disputadas entre Rússia e Japão. Também essas ilhas são ricas em peixes, jazidas de petróleo, gás, ouro e prata. Estão localizadas próximo ao Japão, na parte setentrional, próximas à ilha de Hokkaido.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ONU luta pelo fim do bloqueio econômico

Na última terça-feira, a assembleia geral da ONU reiterou mais uma vez o pedido de fim do embargo americano contra Cuba. Foi o pedido nº 19. No ano passado, só três estados votaram contra: Estados Unidos, Israel e Palau. Dois abstiveram-se (as Ilhas Marshall e Micronésia). Os democratas americanos, tradicionalmente a favor do fim do bloqueio, no governo de Barack Obama parecem ter mudado de ideia. Nesses dois anos de governo democrata, não ocorreu nenhuma alteração em relação à política externa americana em Cuba. Ao contrário, foi reforçada a natureza extraterritorial do bloqueio econômico que começou oficialmente 48 anos atrás. Decretado pelo presidente John F. Kennedy, no dia 3 de fevereiro de 1962, o embargo foi a oficialização de sanções punitivas que tiveram início logo após a Revolução Cubana de 1959.

O objetivo dos norte-americanos era derrotar um regime que seria um mau exemplo para o continente latino-americano, região de tradicional influência dos Estados Unidos. Cuba foi proibida de exportar produtos para o mercado estadunidense, além de não poder receber turistas de lá. Não pode ter acesso a créditos nem utilizar o dólar no comércio com o exterior. A agravar essa situação, foi aprovada, durante o governo Bush, em 1992, a Lei Torricelli. Essa lei proibiu Cuba de importar produtos de empresas norte-americanas também sediadas fora dos Estados Unidos, impondo mais restrições à navegação a partir e para a ilha cubana. Mesmo quando, em 2004, o Congresso dos EUA, sob pressão dos agricultores norte-americanos, votou a favor de uma lei que autorizasse Cuba a comprar produtos americanos, esta veio acompanhada de graves restrições.

Os prejuízos econômicos sofridos por Cuba foram calculados em mais de 82 bilhões de dólares, sem contar o sofrimento moral da população cubana. Diante dessa situação, uma pergunta não quer calar. O “perigo vermelho” desapareceu com a queda do muro de Berlim. A America Latina não é mais submetida à influência direta dos Estados Unidos. Cuba não representa mais a pequena ovelha negra da America Latina, dos anos da Guerra Fria. Então, por que os Estados Unidos ignoram a vontade da maioria dos membros da assembleia geral da ONU, que, por bem 19 vezes demonstrou quase unanimidade em relação ao fim do bloqueio econômico? Há quem diga, e não são poucos, que a resposta esteja em um grupo de pressão, cubano, localizado em Miami, no estado da Flórida, que luta há décadas contra o governo de Fidel Castro, querendo vingança contra tudo o que perderam durante a revolução de 1959, e que sustentou a política anti-cubana de Bush.