quarta-feira, 31 de março de 2010

A origem do conflito entre israelenses e palestinos (2)

Nessas terras foram instalados, no início do século 20, os primeiros Kibbutz, fazendas coletivas inspiradas em princípios socialistas, mas que eram pensadas também como áreas organizadas militarmente. Para se proteger dos ressentimentos palestinos resultantes da ocupação do território palestino, os judeus mantinham organizações armadas e também grupos terroristas. As hostilidades entre os dois grupos cresciam dia após dia.

Os árabes eram excluídos dos trabalhos e das atividades organizadas pelos judeus. A chegada em massa dos judeus na Palestina criou um forte desequilíbrio demográfico na região. Apresentamos alguns números para entender o vertiginoso crescimento da população dos judeus na Palestina: no fim da 1ª Guerra Mundial, os habitantes da Palestina eram formados por 515 mil muçulmanos, 60 mil cristãos, 60 mil judeus e 5 mil de outras religiões. Em 1939, os judeus na Palestina já chegavam a 400 mil.

A delicada situação existente entre judeus e palestinos foi agravada por negociações contraditórias entre países europeus, principalmente França e Inglaterra. Entre as principais negociações, Vizentini lembra o acordo Sykes-Picot, concluído em maio de 1916, durante a 1ª Guerra Mundial, que colocava a Palestina sob controle internacional, e a Declaração Balfour, de 1917, com a qual o governo britânico empenhava-se em estabelecer no território palestino um lar para o povo judeu.

No início dos anos de 1920, portanto, a Palestina era objeto de planos diferentes: um desses planos surgiu do acordo anglo-francês que queria deixar a Palestina sob proteção inglesa, outro era o plano dos árabes que desejavam a independência da Palestina, e o terceiro fundava-se no sonho dos judeus em criar seu novo estado na região.

De1919 a 1929, a Grã-Bretanha impôs sua influência na Palestina, por meio do Mandato Britânico, sob comando de um cidadão inglês de origem judaica. Dessa forma, a Palestina começou a ser contendida por três forças: os ingleses; os judeus sionistas - que se apressaram, por meio da criação de organizações próprias como a Organização Sionista Mundial, da Agência Judaica, dentre outras, a constituírem quase que um estado judaico -; e os árabes, que se organizaram no Conselho Supremo Muçulmano e no Partido Palestino Árabe Nacional.

Após o surgimento do nazismo na Alemanha, as emigrações do povo judeu rumo à Palestina aumentaram vertiginosamente, gerando ainda maiores tensões entre os árabes da região. Com a tragédia do Holocausto, a ideia de criar um estado próprio para o povo judeu se fez ainda mais urgente e relevante. Nesse período, o governo britânico não podia mais conter o fluxo de imigrantes judeus que chegava ao país de forma clandestina. A população árabe, que já organizara a revolta contra a dominação inglesa, começou a se organizar contra a presença judaica, o que provocou a Revolta Árabe de1936. Esta, porém, foi derrotada pelos ingleses, militarmente superiores. Em três anos de conflito, mais de cinco mil árabes morreram.

Nota-Este artigo baseia-se no livro de Paulo Fagundes Vizentini. Oriente Médio e Afeganistão. Dois séculos de conflitos. Editora Leitura XXI.

quarta-feira, 24 de março de 2010

A origem do conflito entre israelenses e palestinos (1)

É comum lermos nos jornais ou escutarmos na TV que uma das causas da guerra entre israelenses e palestinos é o ódio milenar existente entre esses dois povos. Segundo o historiador Paulo Vizentini, tal afirmação não é verídica, pois, no passado, judeus e palestinos viveram por séculos em relativa harmonia.

O conflito só começou na passagem do século 19 ao 20, quando os judeus começaram a ser perseguidos na Europa Oriental sofrendo Progroms (massacres), sobretudo na Rússia czarista. Para se defender dos contínuos ataques e dos sentimentos de anti-semitismo que estavam se difundindo, os judeus criaram o sionismo, um movimento político que defendia o direito por parte dos judeus de constituir uma nação na terra de origem.

Em 1896, sai a obra de Theodor Herlz, O Estado Judeu, enquanto no ano seguinte realizou-se o 1º Congresso Sionista, na Suíça. Outra iniciativa importante do movimento sionista foi a fundação da Universidade Hebraica na Palestina. Tomou forma, portanto, todo um movimento de incitação ao retorno dos judeus na terra deixada séculos antes, em contraposição ao crescimento do anti-semitismo que da Europa Oriental passou a se difundir até na esclarecida França.

No final do século 19, começou, portanto, um fluxo de migrações moderado de judeus para a região da Palestina. Tal fluxo aumentou após a Primeira Guerra Mundial, com as grandes mudanças de então, entre as quais se destaca a Revolução Russa de 1917.
Para facilitar o enraizamento dos imigrantes na Palestina, a Agência Judaica começou a adquirir terras, sobretudo de proprietários que viviam distantes, o que resultou na obrigação para os camponeses de abandonar as terras onde trabalhavam.

Nota-Este artigo baseia-se no livro de Paulo Fagundes Vizentini. Oriente Médio e Afeganistão. Dois séculos de conflitos. Editora Leitura XXI.

quarta-feira, 17 de março de 2010

A origem da diáspora judaica

Semana passada, recebi e-mail de um estudante de relações internacionais pedindo que eu indicasse algum livro que o ajudasse a compreender a origem e as razões do conflito entre Israel e Palestina. Justamente naqueles dias, estava lendo um livro muito interessante sobre o tema, do professor Paulo Fagundes Visentini, intitulado Oriente Médio e Afeganistão, um século de conflitos, da Editora Leitura XXI. O autor aborda o tema do conflito partindo da Primeira Guerra Mundial, onde situa o início da questão judaica. Em seguida, explica o desenrolar dos acontecimentos que levaram à proclamação do Estado de Israel, em 1948.

Uma pergunta me veio em mente: quando foi e por que os judeus deixaram sua terra se espalhando pelo mundo? Onde começa a assim chamada diáspora judaica? Para responder a essa pergunta, comecei a ler algumas versões resumidas da história do povo de Israel. O Antigo Testamento relata as etapas mais conhecidas da história dos judeus. De Abraão e Sara nasceu Isaac. Isaac casou com Rebeca, e eles tiveram dois filhos: Esaú e Jacó, que será chamado também de Israel. Os seus descendentes foram, portanto, chamados de israelitas. O povo de Israel, por causa de uma situação de carestia, foi para o Egito, onde passou 400 anos. Lá, feitos escravos pelo faraó, foram libertados por Moisés e levados para a Terra Prometida. A história desse povo não é certamente uma história pacífica.

Os israelitas tiveram que se defender constantemente dos ataques de povos vizinhos, antes de tudo dos filisteus, seus inimigos tradicionais. Em 1029 a.C., o profeta Samuel, a pedido do povo, escolheu um rei que deveria garantir a unidade do povo de Israel. O escolhido foi o jovem Saul. Nasceu assim a primeira monarquia da história. Seu sucessor, Davi, expandiu o território de Israel e conquistou a cidade de Jerusalém. O território de Israel atingiu seu apogeu sob o reinado de Davi. Em seguida, porém, o reino foi dividido em duas partes, o reino do Norte, também chamado Reino de Israel e o Reino do Sul, ou Reino de Judá, com capital em Jerusalém. Em 586 a.C., a cidade de Jerusalém foi invadida pelo rei de Babilônia, Nabucodonosor, os israelitas foram obrigados a sair de sua terra e forçados a viver por cerca de 50 anos na Babilônia.

Foi nesse período que os anciãos do povo de Israel, para evitar o perigo de extinção total do povo hebreu, decidiram fundar sinagogas e escolas para o estudo sistemático dos livros sagrados da Torá. O reino de Judá foi objeto de invasão de muitos povos: assírios, persas, gregos e romanos. Em 63 a.C., os romanos transformaram a Judeia em província romana. No primeiro século d.C., as lutas entre judeus de várias facções e romanos se intensificaram.

Uma grande revolta judaica começou em 66 d.C. e terminou com o massacre da fortaleza de Massada, em 70 d.C., onde cerca de 900 judeus tentaram resistir ao cerco romano até esgotarem suas forças. A cidade de Jerusalém foi destruída pelos romanos, que escravizaram mais de cinco mil judeus. Uma nova revolta dos judeus foi definitivamente derrotada pelos romanos em 135 d.C. Sobre as ruínas do Templo de Jerusalém, os romanos construíram um templo dedicado ao deus Zeus, proibindo a todos os hebreus o acesso à cidade de Jerusalém.

No mesmo período, segundo a professora Maria Luisa Moscati Benigni, especialista no estudo de comunidades judaicas, para cortar toda ligação com o passado, o nome do território judaico foi mudado para Palestina pelos romanos, o que resultou em uma ofensa para os judeus, porque o nome Palestina derivava da Phalestina, que significa terra dos filisteus, tradicionais inimigos de Israel. Os hebreus expulsos reuniram-se em comunidades ao longo da costa do Mediterrâneo, espalhando-se, depois, pela Europa. Do século 8 até o ano mil, as comunidades judaicas viveram um período próspero e relativamente pacífico.