sexta-feira, 18 de março de 2011

A unificação italiana e o fim dos estados pontifícios


Ontem a Itália festejou os 150 anos de sua unificação. Contudo, em 1861, o país não estava completo. Faltavam-lhe ainda dois territórios: a região do Vêneto, que ainda pertencia ao Império Austríaco e que foi anexada à Itália em 1866, e os Estados Pontifícios, governados, na época, pelo papa Pio 9, que ocupavam o território que corresponde à atual região do Lazio. A proclamação do Reino de Itália, em 1861, foi percebida pela Santa Sé como um sinal de alarme, pois o poder temporal da igreja tinha os dias contados. Já no início de 1861, o primeiro ministro italiano Camilo Benso, Conte de Cavour, que liderou o governo italiano de 1852 a 1861, enviara seus representantes a Roma para tentar, por meio de tratativas secretas, convencer o papa a renunciar ao poder temporal, prometendo em troca liberdade plena para a igreja. A ideia de que a renúncia ao poder temporal pudesse beneficiar a Santa Sé encontrava o apoio não apenas dos católicos italianos, como também de alguns setores do clero.

A recusa do papa
Quanto ao papa, ele recusou-se de entregar livremente os territórios que pertenceram há séculos à igreja católica. Provavelmente, mesmo sabendo que o fim era próximo, Pio 9 não queria ser lembrado como o papa que se entregara ao poder civil. A história da igreja era repleta de ingerências do estado nos assuntos eclesiásticos e o papa sabia que se possuísse um território isso poderia garantir a plena independência. A situação dos Estados Pontifícios era crítica. Após os ataques das tropas de Garibaldi, permanecia nas mãos do pontífice apenas a cidade de Roma e a parte mais antiga do patrimônio de São Pedro. Em 1870, quando eclodiu a guerra franco-prussiana, a França retirou definitivamente seu apoio ao papa. As tropas francesas foram chamadas de volta. A estrada estava livre. Diante da expedição piemontesa liderada pelo General Cadorna, o papa se rendeu em 20 de setembro de 1870. No ano seguinte, em 1871, o rei Vitório Emanuel estabeleceu sua residência oficial no palácio do Quirinale, que até então hospedava o papa.

Questão Romana
Com a extinção dos Estados Pontifícios, o rei declarou inviolável a pessoa do papa - considerado súdito italiano -, e concedia-lhe os palácios do Vaticano, o do Latrão e de Castel Gandolfo, acrescentando uma renda anual de 3,225 milhões de Liras. Além disso, permitia ao papa de exercer o direito de legação ativa e passiva, ou seja, reconhecia à Santa Sé a legitimidade de manutenção de sua rede diplomática. Considerando tais leis como um ato unilateral, Pio 9 as rejeitou, recusou a indenização oferecida e proibiu os católicos de participar das eleições políticas (non expedit). Pio 9 declarou-se prisioneiro no Vaticano. Faleceu alguns meses após a morte do rei Vitório Emanuel, no dia 7 de fevereiro de 1878. Começava, assim, a chamada “Questão Romana”, que só seria resolvida em 11 de fevereiro de 1929, com a assinatura dos Acordos de Latrão entre o papa Pio 9 e o ditador fascista Mussolini, quando a igreja católica recebeu os territórios que lhe permitiram tornar-se um estado, mesmo se pequeno.