quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O governo de Pequim abre as portas ao homem mais rico da China


O ano de 1978 marcou a abertura da China ao mercado capitalista mundial. Deng Xiaoping, o líder que desenhou a transformação do gigante asiático, trocou os dogmas da ideologia comunista por um pensamento pragmático que mirava ao enriquecimento nacional. Contudo, muitos anos se passaram antes que o Partido Comunista da China decidisse abrir suas portas aos capitalistas, que contribuíram para o crescimento do país.

O autor dessa reforma foi Jiang Zemin, que sucedeu a Deng Xiaoping, inaugurando a terceira geração dos líderes comunistas chineses. As suas convicções ideológicas foram resumidas em uma única expressão: Teoria das Três Representações, cuja aplicação marcou uma virada importante na história do Partido Comunista da China.
Jiang Zemin fez referência a esta teoria pela primeira vez no ano 2000, durante uma viagem ao sul da China, de 21 a 25 de fevereiro.

A novidade deste pensamento era que o Partido Comunista da China declarava-se pronto para abrir as suas portas, acolhendo entre os seus membros não somente as tradicionais representações dos camponeses e das massas trabalhadoras, mas, também, as novas classes sociais que estavam emergindo no âmbito da modernização econômica chinesa. Estas novas classes sociais eram os empresários, os intelectuais - que com Deng Xiaoping foram reabilitados e considerados parte integrante da sociedade chinesa – além dos técnicos e cientistas que nas últimas décadas se tornaram os protagonistas do novo cenário chinês.

Somente desta forma, segundo Jiang Zemin, a China poderia continuar se desenvolvendo e crescendo de forma correta e segura, e o partido teria uma base de apoio bem mais ampla e fortalecida.

Em base a esta teoria, o partido deveria representar “as exigências de desenvolvimento das forças produtivas mais avançadas, as orientações de cultura mais avançadas e os interesses fundamentais da grande maioria da população”.
Segundo alguns analistas, as expressões usadas nesta teoria eram reveladoras de uma orientação política bem específica.

A referência à “cultura mais avançada” sublinhava a política de abertura ao exterior, no intuito de apropriar-se da tecnologia e dos conhecimentos mais avançados dos parceiros internacionais. Quanto às “forças produtivas mais avançadas” o uso desta expressão justificaria as reformas econômicas que levaram à reforma das empresas estatais, com o fechamento das que apresentavam déficit, favorecendo, com isso, as empresas do setor privado.

Com a aplicação desta teoria, o Partido Comunista da China, que estava enfrentando uma grande crise de credibilidade junto aos próprios membros do partido e ao povo, buscava uma nova identidade e novos apoios, que lhe permitissem adquirir mais força e capacidade para continuar liderando a sociedade chinesa.

A entrada dos capitalistas no Partido Comunista permitiu que o governo chinês passasse, sem grandes abalos, pelas grandes mudanças econômicas.

A teoria de Jiang Zemin foi condenada por muitos conservadores de extrema esquerda que a consideraram como um ulterior elemento de poluição à cristalina ortodoxia marxista que, segundo tal ponto de vista, já havia sido colocada em crise pelo pensamento de Deng.

Uma década depois, a teoria lançada por Jiang Zemin continua sendo aplicada pelas autoridades de Pequim. Liang Wengen, o homem mais rico da China, vai ingressar no seio da Comissão Central, um dos órgãos máximos do poder executivo do Partido Comunista da China.

O ingresso ocorrerá por ocasião da passagem de poder entre o atual secretário do Partido e presidente da República Popular da China, Hu Jintao, e o próximo secretário, Xi Jinping. Liang Wengen, dono da empresa Sany Group, que produz maquinários para empresas de construção civil, não será o único magnata a fazer parte do Partido Comunista. Cerca de um terço dos magnatas chineses já são membros do Partido Comunista, o que confirma a aproximação já firme entre os capitalistas e o poder político na China.

Um artigo publicado recentemente no site Mondo Cinese (www.mondocinese.it) revelou que o número de pessoas que possuem ao menos 01 bilhão de yuan e que, ao mesmo tempo, exercem cargos políticos, seria de 173, o que corresponde a 12% dos super-ricos chineses. Dessa porcentagem, sete participaram como delegados no último Congresso Nacional do Partido e 83 são integrantes da Assembleia Nacional do Povo, da qual faz parte o segundo homem mais rico da China, Zhing Qinghou, dono da empresa de bebidas Wahaha.