quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Luto nacional e internacional

A última semana foi marcada pela morte de tantas pessoas, aqui em Santa Catarina, bem perto de nós, e de tantas outras um pouco mais longe, na Índia e na Nigéria. Assim como tentamos entender o porquê das calamidades naturais que atingiram os nossos irmãos catarinenses, queremos entender, na medida do possível, quais as causas que provocaram a morte de tantos irmãos indianos, americanos, britânicos, israelenses, africanos, também nos últimos dias.

Na Índia, a capital financeira do país, Mumbai, foi atingida por sete ataques simultâneos que provocaram a morte de 195 pessoas, muitas das quais eram estrangeiras. Os alvos dos ataques terroristas foram os famosos hotéis Taj Mahal e Oberoi-Trident, a estação ferroviária principal, o centro judaico, um restaurante, um hospital e um condomínio, todos locais frequentados prevalentemente por estrangeiros, principalmente americanos, britânicos e israelenses.

Em um primeiro momento, os ataques foram reivindicados por um grupo desconhecido, chamado Mujahidem do Deccan, mas a confissão do único terrorista sobrevivente revelou que quem organizou os atentados terroristas foi um grupo chamado Lashkar-e-Taiba, o mesmo que, em 2001, foi responsável pelo atentado ao Parlamento Indiano. Tal grupo teria sua base em território paquistanês e seria formado por extremistas islâmicos que lutam pela região da Caxemira. Em 1947, a região foi doada à Índia pelo marajá de Caxemira em agradecimento pela ajuda recebida pelo exército indiano. Desde então, o Paquistão reclama este território habitado em prevalência por muçulmanos.

A rivalidade entre indianos e paquistaneses já provocou três guerras e fomentou a corrida dos dois países para obter armas nucleares. Numerosas são as hipóteses formuladas para explicar este novo atentado que chocou a cidade mais conhecida e próspera da Índia. As mais convincentes parecem ser a de expulsar investidores estrangeiros, minando a confiança dos investidores ou a de interromper as recentes tentativas de cooperação contra o terrorismo iniciadas pelo governo indiano e pelo novo presidente paquistanês, Asif Ali Zardari.

De fato, diante da descoberta da responsabilidade do grupo terrorista paquistanês, o governo indiano acusou imediatamente as autoridades de Islamabad de serem indiretamente responsáveis pelos atentados. O governo indiano acusou Zardari de não ser capaz de controlar os próprios serviços segredos paquistaneses, aos quais os terroristas parecem estar ligados. Tal acusação não é infundada, visto que o país está há décadas imerso numa infinda guerra civil, que não permite aos governantes o controle pleno do país.

A Índia é um país complexo. A unidade na diversidade que Gandhi sonhava construir não se realizou plenamente. Ao lado da modernização tecnológica, existem cerca de 150 milhões de muçulmanos que representam a parte mais pobre e menos instruída da população indiana. Onde existe desigualdade econômica e discriminação social, a rivalidade é inevitável. Frequentemente, as religiões são acusadas de serem as principais responsáveis pelos conflitos, mas elas servem também para encobrir outras causas.

No caso da Nigéria, uma das regiões mais pacíficas do país foi palco de conflitos violentos que provocaram a morte de quase 400 pessoas e deixaram dez mil desalojadas. Os meios de comunicação internacionais logo apontaram como causa da violência a rivalidade entre muçulmanos e cristãos. Mas o Arcebispo de Ajuba, capital da Nigéria, Mons. John Onayekan, afirmou que os motivos dos conflitos são políticos e não religiosos. A causa dos conflitos, apontada pelo Arcebispo, é a disputa pelo controle do poder, resultado de contrastes políticos por ocasião das eleições regionais.

O âmbito religioso é território fértil para o surgimento de radicalismos, mas é também espaço privilegiado para iniciativas de conciliação. Nesta semana de luto internacional, é motivo de esperança a inauguração, na Itália, no dia 1º de dezembro, do Instituto Universitário Sophia: universidade que tem como objetivo maior a construção da cultura da unidade. Mas sobre isso trataremos na próxima semana.

Um comentário:

Matheus Anversa disse...

A complexidade dos fatos que ocorrem em regiões de atrito, não são e nem podem ser classificados como religiosos.A religião já foi muito bem utilizado como pretexto, por exemplo, as Cruzadas, ou as Missões Jesuíticas, nesses dois exemplos os motivos “reais” foram busca de território e riquezas.
O Controle do poder e de regiões, esses motivos eu atribuo aos conflitos na India e na Nigeria.
Já as catástrofes climáticas em Santa Catarina, não seria a natureza em busca de seu território?
Abraços.
Matheus Anversa.