domingo, 14 de junho de 2009

Tiananmen (Praça da Paz Celestial) – Vinte anos depois

Dia 4 de junho, completaram-se 20 anos dos protestos da Praça da Paz Celestial (em chinês Tiananmen) em Pequim. Ainda está viva na memória de muitas pessoas a incrível imagem do jovem manifestante que, sozinho, conseguiu parar os tanques do exército chinês. Aquela cena permaneceu como símbolo da luta pela liberdade contra um governo ditatorial. Ninguém sabe onde está hoje aquele jovem. Aliás, a maioria dos adolescentes chineses não sabe ou talvez não se interesse em saber o que realmente aconteceu naquele fatídico 4 de junho de 1989. Os livros escolares nem mencionam o evento, pois para o governo de Pequim essa data representa ainda um problema não resolvido, algo que é preciso esconder do mundo para não manchar sua nova imagem. Prova disso são as medidas de segurança que nesse dia foram tomadas pelas autoridades chinesas para evitar eventuais incidentes: o aumento do número dos policiais na praça, onde vinte anos atrás milhares de estudantes reuniram-se; o bloqueio dos sites que continham informações sobre os incidentes ocorridos em 4 de junho; proibição de debates sobre os motivos que provocaram os protestos e sua repressão.

O dia 4 de junho de 1989 marcou o início do choque entre o exército chinês e os estudantes. Fileiras de tanques atravessaram as artérias principais de Pequim. O confronto foi violento. Os feridos e os mortos foram contados dos dois lados, e a versão oficial do governo não coincidiu com a difundida pelos jornais estrangeiros. A Amnesty International estimou que cerca de 2 mil manifestantes foram presos, acusados de crimes contra-revolucionários. Uma primeira leitura dos acontecimentos levou a opinião pública internacional a tomar a defesa dos estudantes, considerados vítimas inocentes de um sistema autoritário que, sem nenhum escrúpulo, realizara um verdadeiro massacre. O governo chinês foi atacado e acusado de violação dos direitos humanos. Sucessivamente, outras leituras foram feitas, não isentando o Partido Comunista da acusação de ter usado indevidamente a força militar contra os jovens chineses, mas reconhecendo a complexidade dos acontecimentos.

Os combates daqueles primeiros dias de junho, expostos ao mundo inteiro, manifestaram a luta interna pelo poder que estava acontecendo no Partido Comunista entre a facção mais conservadora, que não aceitava a abertura e as reformas econômicas implantadas a partir de 1978, e o grupo progressista liderado por Deng Xiaoping, que lutava pelo fim do isolamento chinês. Os estudantes, reunidos em grupos mais ou menos organizados, eram os porta-vozes daqueles que, mesmo usufruindo de certo melhoramento de vida, enfrentavam ainda muitas dificuldades de ordem econômica e política. Os estudantes queriam abertura, igualdade, o fim dos privilégios dos que detinham o poder. A eles uniram-se outras camadas da população, que acrescentaram outras reivindicações, mais específicas. Todavia a precariedade da organização dos vários movimentos estudantis permitiu que os manifestantes fossem manipulados por correntes políticas em busca da legitimidade de uma autoridade que há tempo estava fraquejando. Provavelmente, se o Partido Comunista não estivesse passando por uma grave crise política, não teria optado pelo uso da força que, naquela conjuntura, foi identificada como única possibilidade de evitar que o partido fosse arrastado pelos combates e perdesse sua autoridade.

No dia 9 de junho, Deng Xiaoping declarou a derrota dos movimentos de protestos e convidou o país a reerguer-se, continuando sua corrida desenvolvimentista. Vinte anos depois, políticos chineses ainda afirmam que a repressão foi uma medida necessária para evitar que o país se desestabilizasse econômica e politicamente, como aconteceu na ex-União Soviética, em 1991. Nesses vinte anos, a economia chinesa fez passos de gigante, conseguindo tirar 400 milhões de chineses da linha de pobreza. O governo ampliou a democratização do próprio Partido Comunista, o que resultou na integração de setores relevantes da sociedade chinesa. Os chineses estão mais satisfeitos com seu país. Mas a China ainda precisará de muitos anos para que possa refletir serenamente e debater com liberdade sobre o que aconteceu naquele doloroso dia 4 de junho de 1989.

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