quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Independência do Kosovo: novo teste para a diplomacia mundial

O parlamento da província autônoma do Kosovo - mantida sob o protetorado das Nações Unidas desde o fim da guerra de 1999 - decidiu nestes dias proclamar unilateralmente a sua independência da Sérvia. O premier Hashim Tachi afirmou orgulhosamente diante da imprensa internacional: “Agora estamos entre as nações democráticas e livres”.

Mas o que comporta proclamar unilateralmente a própria independência e quais suas conseqüências?

Lembramos algumas etapas do processo que levou a tal proclamação.

Em 1999, o ditador Slobodan Milošević foi acusado pelas Nações Unidas de planejar ações de limpeza étnica contra os habitantes do Kosovo, região da Sérvia, mas cuja população é na maioria de origem albanês. Após o falimento das tentativas de dissuadir o ditador, a Otan decidiu passar ao ataque, bombardeando a Sérvia. As justificativas de tal ato foram as de evitar uma segunda Auschwitz e obrigar Milošević a renunciar ao poder. Entretanto, a decisão de usar as armas, mesmo sendo justificada pela defesa dos direitos humanos, gerou em alguns cientistas internacionais dúvidas sobre os benefícios de tal opção. Será que a guerra era realmente necessária? Não existiriam outros meios que evitassem o sofrimento que uma guerra sempre provoca, mesmo tendo uma justa causa?

De fato, apesar da vitória da Otan e da derrota de Milošević, as conseqüências do conflito foram terríveis: expulsões em massa por meio dos esquadrões da morte, a destruição das aldeias e deportações praticadas por Milošević que encontrou na guerra uma desculpa para continuar o massacre. Além disso, as bombas da Otan, ao invés de bombardear o exército servo, caíram sobre imóveis civis destruindo complexos industriais, sedes administrativas, igrejas e hospitais.

Após o fim da guerra, começaram as negociações em vista de uma resolução pacífica entre sérvios e kosovares. O Conselho de Segurança da ONU estabeleceu na província uma administração controlada, com a presença de missões da ONU.

Desde então o Kosovo visou à sua independência. Os sérvios, porém, se opõem à idéia de perder este pedaço de sua província considerada o berço de sua cultura, mesmo sendo sua população de raízes étnicas diferentes, muito mais próximas da Albânia, sua vizinha.

Nestes nove anos, as negociações coordenadas pela ONU não conseguiram satisfazer as duas partes, cujas decisões sofrem, também, a influência de terceiros. A União Européia apóia o Kosovo e se prepara a enviar uma missão civil que substituirá a da ONU. A Rússia, de outro lado, desde o fim do conflito continua a manifestar o seu apoio ao governo sérvio - seu antigo aliado na Guerra Fria - e se opõe a qualquer plano de independência, ameaçando de vetar na ONU qualquer tentativa neste sentido.

A situação do Kosovo parece recriar uma nova divisão mundial. A Rússia manifestou logo a sua oposição ao saber da declaração de independência do Kosovo. Bush, ao contrário, garantiu logo seu apoio incondicionado. Na União Européia, os países-membros se dividiram: Itália, Grã Bretanha, França e Alemanha irão reconhecer a mais recente nação. Romênia, Eslovênia, Chipre e Espanha já manifestaram seu dissenso. A Espanha não apóia posições que abram precedentes separatistas devido a seus problemas internos com os bascos. Outros países como Portugal e Malta esperam o parecer da ONU. O Brasil alinhou-se neste último grupo esperando prudentemente a declaração oficial da ONU. O Premier Hashim Thaci, festejado pela população eufórica, afirmou que o novo Kosovo será uma sociedade democrática, leiga e multiétnica que proibirá o uso da violência, e manterá boas relações com os países vizinhos.
O que o povo do Kosovo está pedindo é de viver finalmente em paz após duas décadas de isolamento e de sofrimento herdadas da tragédia da ex-Iugoslávia.

Nenhum comentário: