quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Matteo Ricci, os jesuítas e a questão dos ritos (parte 3)

Alguns missionários, principalmente dominicanos e franciscanos, que evangelizavam com métodos intransigentes, porque culturalmente ligados a modelos europeus, escreveram à Santa Sé comunicando suas opiniões contrárias aos métodos usados por Matteo Ricci e outros jesuítas, afirmando que a fé cristã corria risco, porque os jesuítas estavam permitindo aos católicos chineses de praticar os ritos aos ancestrais.

Estes ritos eram homenagens que os chineses dirigiam aos próprios defuntos. Todos os chineses guardavam nas suas casas tabuinhas com os nomes dos seus defuntos e a eles dirigiam saudações, acendiam incensos, ofereciam frutas, perfumes... As mesmas homenagens eram reservadas a Confúcio. Tudo isso era a manifestação da virtude da “piedade filial” que estava à base da organização familiar e da sociedade civil chinesa.

Um outro ponto de litígio era sobre a escolha da palavra chinesa para a definição de Deus. Três eram as palavras usadas no tempo de Matteo Ricci: Tian Zhu (Senhor do Céu), Shang-di (Senhor Soberano) e Tian (Céu). Esta última denominação foi usada pelo imperador Kangxi em uma inscrição que ele mesmo tinha redigido em grandes ideogramas com o objetivo de doá-la aos Jesuítas. Estes tinham colocado a inscrição na capela de sua casa. A controvérsia era se estas palavras chinesas pudessem ou não expressar a natureza de Deus. Depois de vários estudos por parte de Roma, o uso das denominações Shang-di e Tian foi proibido.

Em 1645, a igreja católica pronunciou-se pela primeira vez contra os ritos aos ancestrais definindo-os como atos supersticiosos, inaceitáveis para quem queria se converter ao catolicismo. Os jesuítas tentaram esclarecer que esses ritos eram um simples e amoroso tributo aos pais e ascendentes defuntos, consequência da virtude da piedade filial ensinada aos chineses por Confúcio e que nada tinham a ver com superstição. Mas ninguém quis escutá-los. Nem um ato oficial do imperador Kangxi, no qual ele afirmava que as honras prestadas a Confúcio e aos ancestrais eram puramente civis, conseguiu convencer Roma a abandonar a sua atitude intolerante.

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