quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Matteo Ricci, os jesuítas e a questão dos ritos (parte 4)

A intransigência de Roma contradisse as instruções que, no mesmo período, exatamente em 1659, Propaganda Fide apresentara a todos os missionários: “Não usem nenhum meio de persuasão para induzir aqueles povos a mudar os seus ritos, os seus hábitos, os seus costumes, ao menos que não estejam abertamente contra a religião e os bons costumes. O que existe, de fato, de mais absurdo do que transplantar na China, a França, a Espanha, a Itália ou qualquer outro país da Europa?

Não é isto que vocês devem introduzir, mas a fé, que não rejeita os ritos e os costumes de nenhum povo, contanto que não sejam maus, mas quer, ao contrário, salvaguardá-los e consolidá-los... Não façam, portanto, comparações entre os usos locais e os usos europeus; procurem com todo vosso empenho acostumar-vos a eles. Admirem e elogiem tudo que merece elogios; se algo não o merece, não devem certamente exaltá-lo como fazem os aduladores, mas devem ter a prudência de não julgá-lo ou ao menos de não condená-lo sem motivo”.

Faltou confiança nas intuições dos missionários jesuítas que tinham experiência direta e conhecimento profundo da cultura chinesa. As decisões pontifícias distanciaram-se da posição da própria Propaganda Fide e resultaram numa derrota da experiência missionária deste período.

O papa Clemente 11 enviou à China Mons. Charles-Thomas Maillard de Tournon. A sua missão era aquela de explicar e fazer respeitar as decisões do Vaticano em relação à Questão dos Ritos. Admitido à corte imperial, em um primeiro momento, o imperador Kangxi acolheu Mons. Tournon com uma certa cortesia, mas, quando teve conhecimento das comunicações de Roma contra os ritos chineses, fez reconduzir Mons.Tournon a Nanquim e ordenou que daquele momento em diante os missionários deveriam providenciar um piao, isto é, uma permissão emitida pelas autoridades civis para se deslocar no interior da China que seria dada somente aos missionários que tivessem declarado de aceitar o ponto de vista do imperador. Caso não quisessem, seriam expulsos do império.

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