Após 189 anos de governo masculino, a Costa Rica agora é governada por uma mulher. Contudo, a vitória de Laura Chinchilla Miranda, do Partido Liberação Nacional (PLN), não foi surpresa para o povo da Costa Rica. Sua vitória foi favorecida por muitos elementos, tais como o apoio do presidente Óscar Rafael de Jesús Arias Sánchez, em cujo governo Chinchilla trabalhou como vice e como Ministro da Justiça, a alta percentagem de mulheres (58% do total dos eleitores) favoráveis à sua eleição e, sobretudo, a ausência de fortes candidatos na oposição.
Ela derrotou Ottón Solis, fundador do Partido da Ação Cidadã (PAC), que ficou em segundo lugar, com 25% dos votos. Ottón foi ministro do Planejamento e Políticas Econômicas no governo Arias de 1986 a 1988, e já foi derrotado duas vezes nas eleições presidenciais, em 2002 e em 2006. O candidato que chegou em terceiro lugar na corrida presidencial foi Otto Guevara, fundador do Movimento Libertário (ML). O judeu Luis Fishman Zonzinski, último colocado, que recebeu apenas 3,8% dos votos, foi vice-presidente e Ministro da Saúde, representando o Partido de Unidade Social Cristã (Pucs).
O Pucs, de tendência liberal, foi fundado em 1983 pela confluência de forças conservadoras em oposição ao Partido Liberação Nacional e governou o país entre 1990 e 2006, marcando a virada liberalista do país. Em 2006, quando o Presidente Arias retornou ao poder, o Pucs perdeu força e o sistema bipartidário que caracterizou a vida política da Costa Rica por décadas desmoronou, deixando espaço para os novos partidos PAC e ML.
Costa Rica é considerada como a democracia mais estável da América Latina. Em 1987, o presidente Arias recebeu o prêmio Nobel da Paz pela contribuição dada à mediação nos conflitos da América Central durante seu primeiro mandado (1986-1990). Foi o primeiro presidente a ser eleito por duas vezes (em 1986 e em 2006) seguindo o exemplo do líder revolucionário José “Pepe” Figueres Ferrer, que governou o país por três vezes (1948-49; 1953-58; 1970-1974) e que fundou, em 1951, o Partido Liberação Nacional (PLN). O lendário libertador nacional aboliu o exército em 1949, apesar de ser um guerrilheiro.
O Partido Liberação Nacional, de inspiração social democrata, aderente à Internacional Socialista, transformou o país, que é conhecido como a “Suíça da América Latina”. Apelido justificado pelo alto nível do sistema de saúde e do sistema escolar, como também pela expectativa de vida (78,5 anos). Melhores até da vizinha Cuba que não se cansa de fazer propaganda dos seus ótimos hospitais e escolas. A propósito dessa comparação, parece que o slogan preferido do povo da Costa Rica seja: “Preferimos ter mestres e não soldados”. Também na salvaguarda do meio-ambiente, o país destaca-se pelos resultados.
Nesse ano de 2010, a Costa Rica foi classificada em tal âmbito como terceiro entre 163 países, tendo aumentado as próprias florestas de 20%, dos anos oitenta, para mais da metade do território nacional. Em 2021 será o primeiro país no mundo a ter impacto zero na emissão de gás carbônico.
É natural, mesmo se talvez não seja justa, a comparação entre esse país, que foi considerado recentemente como o mais feliz do mundo, e a não distante ilha do Haiti, o país mais pobre da América Central, o país mais triste e que necessita urgentemente de ajuda internacional.
Permanece a esperança que um pouco da felicidade da Costa Rica encontre lugar entre os vizinhos do Haiti.
Maquiavel não foi maquiavélico
Há 6 anos