quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Toussaint Louverture – o herói da independência haitiana (fim)

Segundo o cientista político Antonio Maria Baggio, Toussaint possuía uma história diferente dos outros escravos. Desde pequeno, ele não conheceu a vida de pancadas e perseguições, comum aos outros escravos. Cresceu junto à plantação Breda e foi destinado sempre a serviços que o faziam conviver com os donos da plantação. Ganhou sua confiança e pôde, dessa forma, aprender noções preciosas para sua futura missão.

Outro elemento destacado por Baggio é que sua educação aconteceu em um ambiente cristão. Foi um padre que lhe ensinou a ler e escrever. Toussaint frequentava a igreja, ajudava na missa, estava, portanto, acostumado a escutar a mensagem evangélica. A ideia fundamental que retirou dessas leituras era a da fraternidade, da igualdade: todo o homem é feito à imagem de Deus e ele é irmão de todos os outros.

Tal ideia - segundo o cientista italiano - permeou toda ação revolucionária de Toussaint. Exemplo disso foi o apelo, lançado em 20 de agosto de 1793, por Toussaint Louverture. Ele dirigiu-se assim aos escravos das plantações do norte do Haiti: “Irmãos e amigos, meu nome é Toussaint Louverture, que talvez vocês já conheçam. Quero que a liberdade e igualdade reinem em Santo Domingo, trabalho para que elas existam. Unam-se a nós e combatam conosco pela mesma causa”.

Com essa mensagem, Toussaint procurava unir todos os escravos haitianos, formar um povo só. Os escravos provinham de lugares diferentes da África. Tinham, com certeza, tradições culturais diferentes, não existia a nação haitiana. Por isso, é importante evidenciar a palavra usada por Toussaint para se dirigir aos escravos. Ele os chama de “irmãos”.

Comentando essa mensagem, o professor Baggio escreveu: “Toussaint os chama de irmãos para fazer deles um povo. A fraternidade tem uma nítida leitura política. Ela muitas vezes desempenha um papel importante no alvorecer dos estados, quando a liberdade e a igualdade ainda não existem. Quando um estado é invadido por colonizadores e por estrangeiros, quando está sob uma ditadura, e a liberdade e a igualdade não existem, é preciso conquistá-las a partir da fraternidade, porque os combatentes estão prontos a dar a vida um pelo outro e não medem sacrifícios.

Portanto, é uma fraternidade que funda os estados; mesmo que, depois, ao atingir a condição de normalidade e de ser estabelecida uma ordem institucional e legal, frequentemente seja esquecida. É quando também a liberdade e a igualdade podem entrar em crise, porque não mais se vivem com a fraternidade, que foi sua origem e seu fundamento”.

A mensagem de Toussaint, mesmo a escravidão tendo sido abolida e a independência alcançada, permanece incrivelmente atual. O apelo de Toussaint deveria ainda hoje ressoar nas ruas do Haiti como uma chamada à fraternidade, à igualdade e a liberdade. Elementos fundamentais para a reconstituição de um novo Haiti.

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