quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cooperação Sul-Sul

Na semana passada, realizou-se a reunião anual do G-7 mais a Rússia, e do G20, grupo este que reúne países desenvolvidos e emergentes, na busca de novos caminhos que ajudem todos os países a sair da crise econômica que abalou recentemente as economias mundiais. Entres os integrantes desse grupo, nos últimos anos, destacou-se a ação internacional de países como Brasil, Índia, África do Sul e China, que estão liderando um novo tipo de relacionamento internacional, a assim chamada Cooperação Sul-Sul. Na verdade, esse tipo de cooperação, que reúne os países em desenvolvimento localizados no hemisfério sul, afunda suas raízes no período da primeira década de 1960, quando se formou o Grupo dos 77.

O grupo foi implantado em 1964, dentro da estrutura da Unctad (Conferência para o Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas), em Genebra, com o objetivo de fornecer meios aos países do sul de articular e promover os interesses econômicos coletivos. Outro objetivo era melhorar a capacidade de negociação dos países periféricos dentro do sistema internacional, promovendo, ao mesmo tempo, a cooperação para o desenvolvimento entre os países pertencentes ao hemisfério sul.

Em 1978, sempre no seio das Nações Unidas, uma nova iniciativa veio reforçar a cooperação entre os países do sul do mundo. Tratava-se do Plano de Ação de Buenos Aires, resultado da conferência realizada na capital argentina, em 1978, e que reuniu 138 países. O Plano de Ação apresentava 38 recomendações para a implantação de um programa de Cooperação Técnica entre os Países em Desenvolvimento (TCDC). A este fim, foi criada uma Unidade Especial de Cooperação Sul-Sul, dentro do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Contudo, as décadas se passaram e tal programa não alcançava os fins para os quais tinha sido criado.

O modelo de cooperação até então atuado se baseava na assistência oferecida aos países do sul pelos países do norte usando metodologias criadas nos países desenvolvidos. O passo decisivo para uma re-emergência de uma Cooperação Sul-Sul mais eficaz ocorreu apenas no início do atual século, sobretudo graças a países emergentes cujo modelo de desenvolvimento deu certo e que suscitaram esperança no resto dos países do hemisfério sul.

Entre eles, o Brasil, a China, a Índia e a África do Sul, que aceitaram desempenhar um papel de liderança no sistema de Cooperação Sul-Sul. Tais países, reconhecidos como líderes regionais, estão tentando ensaiar um novo modelo de cooperação e diplomacia, dessa vez, estruturado a partir dos países do hemisfério sul, evitando com isso reproduzir erros já cometidos pelos países do hemisfério norte. A aplicação desse novo projeto pode ser observada a partir de duas iniciativas valiosas de cooperação: o Fórum IBSA, formado em 2003 por Brasil, Índia e África do Sul e o grupo do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

A cooperação empreendida por tais grupos não se limita a iniciativas comerciais e de desenvolvimento industrial, mas atinge áreas fundamentais como educação, saúde e proteção social. A presença desses novos atores no cenário internacional e sua intenção de criar modelos alternativos de cooperação gerou uma nova esperança para povos que até então ficaram a mercê dos tradicionais centros de poder, sendo considerados apenas como a periferia do mundo.

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