quarta-feira, 7 de maio de 2008

As pontes da China e a ponte de Laguna

Desde a antiguidade, a China distinguiu-se pela sua engenhosidade. Não por acaso algumas das mais importantes invenções provêm de lá. Ela já detinha o primado da mais longa ponte marítima do mundo. E agora se superou com a ponte do golfo de Hangzhou que liga o coração financeiro e comercial de Xangai à região de Ningpo, importante sede da indústria manufatureira chinesa. A ponte tem uma extensão de 36 quilômetros. Os trabalhos começaram em 2003 e foram concluídos no mês de junho de 2007, oito meses antes da data prevista. Ao invés de viajar por quatro horas, agora os chineses levarão somente duas horas e meia para chegar à destinação. A obra custou cerca de 11,8 bilhões de yuan (cerca de 1,68 bilhão de dólares), dos quais 30% provêm de capital privado. Ela foi projetada para resistir a todo tipo de tufão – fenômeno típico da região- e pensada nos mínimos detalhes para proteger os motoristas que a atravessarão. Exemplo disso, é a construção em forma de S, cumprindo a lei chinesa que proíbe a construção de estradas com mais de dez quilômetros de linha reta. Além disso, a cada cinco quilômetros o guarda-rail foi pintado de uma cor diferente para despertar o motorista. Uma ilha de serviços está sendo concluída na metade da ponte sobre uma barragem. O objetivo da ponte é estimular mais ainda o desenvolvimento econômico da região. Para nós, que assistimos de longe ao crescimento chinês, ela representa o símbolo de uma cultura que, desde sempre, soube ir além dos obstáculos naturais para construir a própria civilização. A China é de uma complexidade enorme, e diante deste país, surgem contemporaneamente sentimentos contraditórios: de admiração, curiosidade e às vezes de temor já que tudo o que é desconhecido sempre desperta um pouco de medo.

No final do mês de abril, participei de uma Conferência sobre as relações entre a China e o Brasil na antiga sede do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Participaram professores das principais universidades brasileiras, argentinas e chinesas, além de embaixadores e representantes do governo chinês. Foi uma ocasião de reflexão e de revisão de algumas posições a respeito da China. Principalmente a respeito do Tibete. A imagem desta região como um dos últimos paraísos perdidos, destruído sem piedade pela maldade do governo chinês é incompleta. Situada nas inóspitas montanhas do Himalaia, o Tibete sempre foi uma região muito pobre. No início do século XX, os seus habitantes trabalhavam como escravos para os monges budistas. Na época da proclamação da República Popular da China, o atual Dalai Lama foi convidado a participar do Congresso Nacional do Povo. Aceitou e foi para Pequim. Mao Zedong garantiu-lhe que as prerrogativas da elite tibetana teriam sido respeitadas. Contudo, em 1959, o Partido Comunista decidiu atuar a reforma agrária, abolindo a escravidão. A elite tibetana rebelou-se, mas o exército chinês conseguiu derrotá-la. O Dalai Lama e outros representantes da elite tibetana, tendo perdido seus privilégios, escolheram o exílio na Índia. Certamente é por isso que ele nunca pediu a independência do Tibete. Ao contrário, em uma das últimas entrevistas, reiterou a convicção de que a China pode oferecer ao Tibete ajuda econômica para melhorar a vida dos 6 milhões de tibetanos. E, mais uma vez, discordou da ação da Associação dos Jovens Tibetanos que está fomentando as revoltas contra o governo de Pequim, considerando seus objetivos não realísticos. Desta análise, percebi que a China tem a sua parte de razão, e que merece receber também elogios, e não somente críticas, pela sua capacidade de sair de um período obscuro, como foi o da Revolução Cultural, e poder oferecer ao seu povo um futuro melhor. E a propósito da ponte, quem sabe a nossa região não pode se inspirar nos chineses para a construção da ponte de Laguna. Se a ponte chinesa, com 36 quilômetros, foi realizada em 4 anos, a de Laguna, com menos de 3 quilômetros, poderia ficar pronta em bem menos de um ano, não é verdade?

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