quarta-feira, 30 de abril de 2008

Afeganistão: novo ataque dos talibãs

No domingo passado os talibãs voltaram a atacar. Mais uma vez o alvo escolhido foi o presidente do país, Hamid Karzai, da etnia pashtus, a etnia majoritária do Afeganistão. No país existem também as etnias Tadjiques, Uesbeques e os Hazaras (xiitas), localizadas no norte e no centro do país. O atentado aconteceu durante uma parada militar que celebrava o 16º aniversário da queda do governo filo-soviético. Não obstante a presença de carro armados e de milhares de soldados que desfilavam nas ruas da capital, Cabul, os talibãs conseguiram se aproximar do presidente Karzai abrindo fogo na direção das autoridades políticas após lançarem dois foguetes de um prédio vizinho. O presidente saiu ileso, mas três civis foram mortos, entre eles uma criança de 10 anos. Três talibãs também morreram. Logo após o atentado, os talibãs reivindicaram a autoria do ataque. O seu porta-voz, Zabihulah Mujahed, afirmou: “As autoridades afegãs e a Otan afirmaram este ano que os talibãs estão prestes a serem derrotados. Neste atentado, não apontávamos para ninguém em particular, só queríamos mostrar ao mundo que podemos atacar onde desejarmos”.

Este último ataque parece, portanto, ser conseqüência das decisões internacionais tomadas no último vértice da Otan, realizado em Bucareste no início de abril. No vértice, 12 países membros da Otan empenharam-se (diante do presidente afegão Karzai) a manter presença no país oferecendo os meios e equipamentos necessários para que, até 2010, o Afeganistão consiga criar um exército efetivo de 80.000 homens. O Ocidente enviará novas tropas de militares, respondendo desta forma às pressões americanas de reforçar a batalha contra os talibãs no país. O objetivo da presença militar internacional seria, conseqüentemente, o de ajudar a população afegã a reencontrar a autonomia política necessária para garantir a estabilidade no país. Mas este objetivo nos parece muito difícil de ser alcançado, ao menos nas atuais condições políticas, sociais e econômicas.

O povo afegão, apesar de estar ciente de não poder enfrentar sozinho o fantasma ainda ativo do governo talibã - que promoveu no país anos de obscurantismo e terror - vê com desconfiança a presença dos militares estrangeiros que parecem ter invadido o país assim como fizeram as tropas soviéticas em 1979.

O governo de Karzai - que venceu as eleições em 2004, após uma intervenção militar internacional liderada pelos Estados Unidos - está se demonstrando politicamente muito fraco também em relação aos senhores da guerra, presentes no próprio parlamento e que agem unicamente em favor dos próprios interesses econômicos.

O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo. Contudo, segundo o último relato da FAO, a agência da Onu para alimentação e agricultura, o país poderia facilmente saciar a fome de sua população. Seria suficiente, para isso, substituir a maciça produção de ópio por aquela de trigo. Segundo os dados da ONU, o Afeganistão destina 193 mil hectares de terras para a plantação de papoula, produzindo desta forma mais de 90% do ópio em circulação. No entanto, o controle da produção e comércio das drogas está nas mãos dos talibãs que, por sua vez, apóiam o terrorismo internacional.

Além disso, o Afeganistão, apesar de não oferecer nenhum tipo de recurso econômico ou energético capaz de atrair os olhos do mundo, teve a infelicidade de localizar-se entre países relevantes para a geopolítica mundial. Situado entre a China e o Irã, representa, para os Estados Unidos, um canal estratégico de acesso às riquezas petrolíferas dos países da Ásia Central, sem ter que passar pela rival Rússia. Atualmente, para o vizinho Paquistão, que apóia as ofensivas talibãs, o Afeganistão representa um estado tampão frente à Índia. A população afegã parece condenada a ser alvo dos interesses nacionais e internacionais que continuam mantendo o país num perene estado de guerra civil. Os Estados Unidos acusam o fundamentalismo islâmico de ser o culpado por toda essa história, mas foram os principais responsáveis pelo domínio talibã no país, já que armaram Osama Bin Laden nos anos de luta contra a ex-URSS.

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