quarta-feira, 4 de junho de 2008

Itália sob acusação internacional

No dia 2 de junho, festa da proclamação da República Italiana, o país foi acusado pela ONU de atitude xenófoba e intolerante contra a imigração irregular e as minorias étnicas presentes no território italiano. Louise Arbour, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, durante uma reunião do Conselho da ONU, em Genebra, denunciou a recente decisão do governo italiano de considerar como delito a imigração ilegal. Ela alertou a comunidade internacional contra os recentes ataques aos acampamentos nômades em Roma e Nápoles. O governo Berlusconi defendeu-se das acusações lembrando que a Itália sempre lutou contra o racismo, a intolerância e a xenofobia. As autoridades italianas alegaram que as medidas legislativas, ainda em discussão, não possuem nenhuma valência discriminatória, mas visam garantir a segurança do povo italiano. Durante a campanha eleitoral, Berlusconi prometeu empenhar-se nas questões de segurança nacional e luta contra a imigração clandestina. Entre as medidas discutidas figuram a expulsão dos estrangeiros quando condenados a uma pena superior a dois anos e o aumento da pena em um terço para o imigrante que cometer um delito. Além disso, qualquer um que viva ilegalmente na Itália pode ser condenado a uma pena de seis meses a três anos de prisão, além de ter que pagar multas de até 150 mil euros e ter a casa confiscada. Se tais medidas forem aprovadas pelo Parlamento, a Itália se tornará um dos países europeus com as regras mais rígidas em relação à imigração.

Segundo uma recente pesquisa, os italianos têm medo dos imigrados, especialmente das populações rom (ciganos), provenientes do leste europeu. Elas vivem acampadas nas periferias das grandes cidades, muitas vezes em condições higiênicas precárias. Recentemente, membros dessas comunidades foram atacados durante a noite e os acampamentos incendiados por grupos extremistas. Por causa disso, as comunidades nômades estão se organizando por meio de turnos de vigilância noturna, tentando proteger-se de outros eventuais ataques.

Medo e insegurança, portanto, de ambos os lados, estão caracterizando o panorama italiano. O governo decidiu usar mão de ferro para colocar fim à criminalidade que se esconde entre os clandestinos. A oposição, porém, liderada por Walter Veltroni, posicionou-se contra as medidas do governo Berlusconi. Tais medidas, segundo ele, só reforçam o medo e a insegurança da população. Segundo Veltroni, é preciso combater a criminalidade e a clandestinidade, mas dentro das diretrizes européias de integração das minorias étnicas. Não se pode, em nome da segurança nacional, aceitar o perigoso estereótipo segundo o qual “todos os rom seriam criminosos”. A oposição alerta que se o novo governo aplicará a política de segurança anunciada, em poucos anos o número de detentos poderá duplicar ou triplicar. Contudo, a discussão italiana não é um problema isolado. A Itália manifestou de forma aguda um sintoma já presente em todo o continente europeu. Outros países europeus, como a Alemanha, França, Reino Unido e Grécia já possuem normas semelhantes às que o governo italiano quer adotar, mesmo se com penas menores (entre três meses e um ano de prisão). O problema da imigração é um assunto que a União Européia está tentando resolver há anos. São quase 12 milhões de clandestinos presentes em todo continente. No último encontro da Assembléia plenária de Estrasburgo, a Comissão Européia, referindo-se aos problemas italianos, condenou todo tipo de violência contra as populações rom, reiterando que os romenos são cidadãos europeus, e têm direito de circular nos países membros. Ocorre distinguir entre os criminosos e aqueles que querem trabalhar e integrar-se.

O problema é que a velha Europa continua sendo o sonho de consumo de muitos. Espera-se conseguir lá uma vida melhor. A Itália continua sendo - no imaginário geral - o país do sol, do mar, da dolce vita. Infelizmente isso não passa de um mito. O velho continente está doente e precisa de cuidados imediatos por parte de todos, imigrantes ou não.

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