quarta-feira, 11 de junho de 2008

Roma, Hong Kong e Macau

Em janeiro de 2005, estava em Roma preparando as malas para uma viagem longamente sonhada. Na manhã seguinte pegaria o avião que me levaria à China, mais propriamente a Macau, ex-colônia portuguesa. Ali se realizaria um seminário internacional sobre China e Ocidente e tive a honra de ser convidada para proferir uma breve palestra.

Era a primeira vez que fazia uma viagem ao Oriente, e sozinha. Meu esposo e minhas filhas ficaram na casa dos meus pais, onde naquele ano passamos as festas de Natal e Ano Novo. Vários familiares e amigos ao saber que iria sozinha à China me perguntavam maravilhados: “Não tens medo de ir sozinha?”. Na verdade, não sentia medo, talvez certo temor. Mas a curiosidade e a vontade de conhecer de perto o meu objeto de estudo de anos e anos, me faziam superar o temor.

Finalmente, o grande dia chegou. Peguei o avião de Roma para Paris, e até aqui nada de incomum para um europeu. Em Paris, peguei o avião para Hong Kong. O cenário mudou completamente. Nós, ocidentais, éramos minoria. Os chineses eram praticamente os donos do avião. Encontrei-me espremida entre duas moças chinesas. Uma delas abriu logo o jornal, em chinês. Consegui ler alguns títulos, mas como há anos não praticava o chinês, muitos ideogramas haviam sumido da minha cabeça. Preferi então pegar o jornal em francês, que me entregaram na entrada do avião. Depois, dormi. Quando acordei, de madrugada, olhei logo a tela da TV que indicava a posição do avião. Estávamos voando sobre a cidade de Vladivostok, na fronteira entre a Rússia e a China. Havíamos percorrido no ar o trajeto da mítica ferrovia transiberiana. Era realmente emocionante. Passamos sobre a cidade de Harbin, famosa pelas esculturas de gelo. Depois, Pequim e Xangai. Enfim, pousamos em Hong Kong.

Quando coloquei o pé em terra chinesa, foi como ter ganhado uma medalha de ouro. Mas a aventura estava somente começando. O aeroporto de Hong Kong é um dos aeroportos mais bonitos que vi até agora. O teto é totalmente de vidro. Poltronas e sofás coloridos estão espalhados em todo o saguão oferecendo repouso aos viajantes mais cansados. A emoção me impedia de sentir o cansaço. Havia preparado todo o trajeto pela internet. Porém, assim que cheguei, percebi que o os horários dos ferry-boat - que saíam do aeroporto direto para Macau - não eram os mesmos que eu havia assinalado pela internet. Deveria esperar pelo menos duas horas, e resolvi pedir informações. Aconselharam-me a pegar o metrô, depois um táxi até o porto e, de lá, o ferry-boat para Macau. Parecia simples, mas a idéia de lançar-me no coração de Hong Kong sem conhecer nada da cidade, e sozinha, fez-me parar alguns minutos para avaliar a situação. Após breve hesitação, decidir arriscar. Era uma aventura e teria que viver cada segundo dela. Peguei um mapa do metrô de Hong Kong, estudei bem as paradas e fui. No metrô não era a única estrangeira, mas certamente a mais inexperiente. Cheguei ao ferry-boat sem problemas. Após quarenta minutos de travessia, já podíamos enxergar as luzes de Macau. Era quase noite quando desci do navio. Enormes letreiros luminosos e coloridos enfeitavam as principais avenidas da cidade. Logo percebi que os cassinos eram os principais empregadores dos habitantes de Macau. Em Hong Kong os cassinos são proibidos, por isso o fluxo de chineses provenientes da ilha e da China continental é enorme. Foi muito bom chegar ao hotel e perceber que estava tudo certo com a minha reserva. Na manhã seguinte, com as luzes artificiais apagadas, pude admirar o rosto mais humano da cidade. Como Macau foi colônia portuguesa, todas as ruas têm o nome português. O hotel em que estava hospedada localizava-se na Rua da Amizade. A arquitetura da cidade antiga é típica de uma cidade portuguesa. No coração da cidade, conheci a Praça do Senado com as mesmas calçadas típicas de Copacabana. Mas o português não é falado, a não ser por poucos idosos. As línguas que prevalecem são o chinês (cantonês) e o inglês, naturalmente. E chinesa é a verdadeira identidade de Macau. De Portugal sobraram os nomes das ruas, a arquitetura de alguns prédios, as ruínas da Igreja de São Paulo, o forte que domina do alto a cidade e a missa das 11 horas de domingo de manhã, sempre rezada em língua portuguesa. Foi uma viagem e tanto. Pena que durou poucos dias. Deixou-me o desejo de conhecer a China mais profundamente. E esse é o lado bom de uma boa viagem: aumenta o desejo de viajar!

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