quarta-feira, 18 de junho de 2008

Nova crise na União Européia

Há poucos dias uma nova crise abriu-se no processo de integração européia. O povo irlandês, convidado a expressar seu consentimento ou sua oposição à adesão da Irlanda ao Tratado de Lisboa, optou pelo não. Tal recusa representa para a União Européia uma grave freada no processo de revitalização da União Européia no qual estão trabalhando há tempo os 27 Estados-membros. Até agora, já 18 destes Estados ratificaram o Tratado de Lisboa. Entre estes, estão países estratégicos como França, Alemanha, Dinamarca, Polônia, etc. Este Tratado, que foi assinado pelos Chefes de Governos de todos os Estados-membros em 13 de dezembro de 2007, parecia ser a solução definitiva às precedentes crises que a União Européia superou desde a sua criação. Ao todo, foram seis as crises que colocaram em sério perigo a união deste bloco continental. A última foi em 2006, quando França e Holanda reprovaram, também com um referendum, a adoção da Constituição Européia. Ao assinar o novo Tratado, em dezembro, o clima era otimista, nada fazia prever possíveis rejeições. Isso porque se pensava que este Tratado tivesse alcançado o objetivo de garantir benefícios satisfatórios para todos os seus membros. Entre as justificativas do Tratado estão: melhorar a eficiência do processo de tomada das decisões; reforçar a democracia por meio do Parlamento Europeu; permitir uma posição mais sólida e coerente em matéria de política externa, sobretudo por meio da combinação na mesma pessoa das funções de Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e de Vice-Presidente da Comissão Européia; enfrentar os grandes desafios da alteração climática, do problema energético, e de outros problemas transnacionais. Além disso, o Tratado prevê a criação de um novo cargo permanente de Presidente do Conselho Europeu, nomeado por um período de dois anos e meio pelo próprio Conselho Europeu, que traria maior continuidade e estabilidade para o seu trabalho.

Mas, então, quais as razões do “não” irlandês? O famoso cientista político italiano, Giovanni Sartori, atribui este resultado à diminuição da capacidade cognitiva do cidadão europeu. Ou seja, eles não teriam entendido do que se tratava. Ou podemos pensar que foram mal-informados. Há quem diga que existem interesses econômicos e políticos externos que lutam contra uma Europa mais unida e, conseqüentemente, mais autônoma.

Não é a primeira vez que a Irlanda provoca uma crise na União Européia. Já em 2001 os irlandeses optaram pelo não quando votaram contra a ampliação da União Européia e após um ano corrigiram sua posição aprovando a ampliação com um novo referendum.

Diante desta nova crise, a tendência unânime dos outros Estados-membros é de não superestimar o não irlandês. É certamente sintoma de alguma insatisfação que deve ser analisada, mas não é definitivamente o ponto de ruptura que marcará o fim da União Européia. “Devemos continuar a caminhar rumo ao fortalecimento da integração européia”, afirmaram Chefes de Governo europeus.

Poucas semanas atrás tratamos nesta coluna da primeira crise enfrentada pelo continente sul-americano no seu projeto de integração. Em comparação com a União Européia a América do Sul é uma criança movendo os primeiros passos ao lado do irmão mais velho que já corre. A criança menor cai mais que a maior. Contudo, ambos estão sujeitos às quedas. A União Européia também pode cair e se machucar, mas isso não a impede de levantar e continuar caminhando e crescendo. O que vale para o irmão mais velho, vale também para o novo. É o que desejamos também para a experiência da Unasul (União das Nações Sul-americanas).

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