quarta-feira, 8 de abril de 2009

G-20 - embrião de uma nova governança mundial

Realizou-se na quinta-feira passada, dia 2 de abril, em Londres, a tão esperada reunião do G-20. O grupo reúne os países do G-8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Rússia), a União Europeia e mais 11 nações emergentes (África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, México e Turquia). Juntos, estes países representam cerca de 90% da riqueza produzida no planeta, dois terços da população mundial e, também, 80% da emissão de gases poluentes.

Inicialmente, as previsões sobre os resultados do encontro não eram das mais róseas, considerada a existência, entre os participantes, de duas orientações opostas. De um lado, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que defendiam intervenções imediatistas e eficazes para a repartida da economia; de outro, a França e a Alemanha, pedindo regras mais severas que permitissem redesenhar o sistema financeiro internacional. Nicolas Sarkozy, na véspera do encontro, ameaçou até deixar o vértice se não fosse reconhecida unanimemente a necessidade de definir novas regras para reformar o sistema financeiro, sobretudo, em relação aos paraísos fiscais. Apesar das primeiras desavenças, os participantes do G-20 conseguiram - como Obama desejou na véspera do encontro - concentrar-se nos pontos em comum mais do que nas divergências.

Entre as medidas mais relevantes apresentadas na declaração conclusiva do vértice do G-20, estão: o aumento de recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI); novas regras para os mercados financeiros e sanções para os paraísos fiscais. Com efeito, foi apresentado um programa de 1,1 trilhão de dólares para estimular o crédito, crescimento e emprego podendo chegar à soma de 5 trilhões de dólares até 2010. Foi previsto, também, o aumento de recursos do FMI para um total de 750 bilhões de dólares aos quais se acrescenta a injeção de 250 bilhões para financiar o comércio mundial.

As reivindicações de Sarkozy e Merkel encontraram uma resposta na aprovação de novas regras de supervisão financeira, reforçando a coerência das regulamentações financeiras nacionais, os critérios financeiros internacionais e desencorajando a tomada de riscos excessivos. Uma outra medida significativa, que venceu a resistência de alguns dos integrantes do G-20, foi a decisão de agir contra os paraísos fiscais. A declaração final do vértice fala do “fim da era do segredo bancário”. O combate das medidas protecionistas como meio de reagir à crise econômica também foi um dos pontos altos da reunião. Os participantes concordaram em impedir o surgimento de novas barreiras protecionistas até o final de 2010.

A luta contra medidas protecionistas foi uma das maiores reivindicações do Brasil, país emergente que, apesar da crise, não cedeu à tentação de usar medidas protecionistas. Aliás, o Brasil desempenhou um papel significativo dentro do G-20, reconfirmando não apenas sua liderança frente ao bloco regional latino-americano, mas, também, destacando-se como “porta-voz” dos países emergentes. Segundo Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial Getúlio Vargas, “a imagem e a credibilidade do Brasil saíram muito fortalecidas do encontro de Londres. Lula mostrou ao mundo que é popular sem ser populista, o que é raro na América Latina”, concluiu Langoni.

Em última análise, o G-20 pode ser considerado um passo rumo a uma maior governança mundial. O tempo do G-8 acabou. O G-20, junto com a Espanha e a Comissão Europeia, formará o Conselho de Estabilidade Financeira e colaborará com o FMI na detecção de riscos no sistema financeiro. Todos os instrumentos financeiros ficarão sob a supervisão destes países. Existem, portanto, as premissas necessárias para que o planeta caminhe rumo a uma nova ordem internacional. Contudo, além de concretizar as medidas apresentadas, será necessário ampliar ainda mais o G-20, convidando também os países pobres, grandes ausentes do vértice de Londres. De fato, com exceção da África do Sul, nenhum outro país africano estava presente. O G-20, hoje, é, por enquanto, apenas uma reunião informal, mas, se o grupo for institucionalizado e receber os devidos instrumentos políticos e jurídicos, poderá tornar-se o embrião de uma nova governança mundial.

3 comentários:

Unknown disse...

Embora tenha atingido seu objetivo principal durante Cancun, o G20 não obteve muitos resultados concretos após a conferência passando, então, a dedicar-se a consultas técnicas e políticas, reuniões com o intuito de agilizar negociações e desenvolvimento de propostas específicas em apoio à posição comum adotada pelo grupo.
Em 2004, os membros do G20 se comprometeram com padrões da transparência e de governança fiscal para conter abusos no sistema financeiro, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. No mesmo ano, os países do grupo também discutiram formas de aumentar a transparência do sistema financeiro internacional, tema que ainda está em pauta, e assinaram um Acordo para o Crescimento Sustentável. Uma agenda indicaria os passos e prazos de cada país na implantação desse acordo, mas as nações já combinaram de rever a implementação, o que torna o compromisso mais frouxo. Vale lembrar que o G20 é um fórum informal, não um bloco econômico.

Unknown disse...

G20 foi criado durante a fase de preparação para a V Conferência Ministerial da OMC realizada em setembro de 2003 em Cancun, esta teve como objetivo primeiramente equilibrar as decisões na conferência e impedir um resultado pré-determinado, o que de fato ocorreu, abrindo espaço para negociações sobre agricultura.
Embora tenha atingido seu objetivo principal durante Cancun, o G20 não obteve muitos resultados concretos após a conferência passando, então, a dedicar-se a consultas técnicas e políticas, reuniões com o intuito de agilizar negociações e desenvolvimento de propostas específicas em apoio à posição comum adotada pelo grupo.
Em 2004, os membros do G20 se comprometeram com padrões da transparência e de governança fiscal para conter abusos no sistema financeiro, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. No mesmo ano, os países do grupo também discutiram formas de aumentar a transparência do sistema financeiro internacional, tema que ainda está em pauta, e assinaram um Acordo para o Crescimento Sustentável. Uma agenda indicaria os passos e prazos de cada país na implantação desse acordo, mas as nações já combinaram de rever a implementação, o que torna o compromisso mais frouxo. Vale lembrar que o G20 é um fórum informal, não um bloco econômico.



PS.: Ao passar um dos comentários do Word para o blog não foi enviado uma parte, este esta certo. Obrigado Anna

Unknown disse...

Como deu para perceber com a reunião do G-20, os países participantes estão preparados para estabilizar o sistema financeiro e lançar as bases de uma economia sustentável, como investimentos para estimular o credito, emprego e crescimento e injetando bilhões na economia mundial para financiar o comercio.A defesa que o Brasil fez sobre o protecionismo é valida, já que em momentos de crise, os países não podem buscar o protecionismo como solução, o ideal seria um mercado mais livre com alta concorrência. Por fim, as alternativas sugeridas podem resolver alguns dos problemas mundiais, resta saber se o G-20 vai ter força suficiente e não se dissolver no caminho.