quarta-feira, 15 de abril de 2009

A Operação Pan-Americana de Juscelino Kubitschek (Parte 2)

Em 1958, JK lançou a Operação Pan-Americana (OPA), uma proposta de cooperação internacional de âmbito hemisférico que visava ao desenvolvimento econômico e político não apenas do Brasil, mas de toda América Latina, onde o sentimento antiamericano e anti-imperialista enraizava-se cada vez mais. As violentas manifestações ocorridas nas cidades de Lima e Caracas contra o vice-presidente americano, Richard Nixon, em visita, naquele ano, ao continente sul-americano, confirmaram tais sentimentos. Após o retorno de Nixon aos Estados Unidos, JK enviou uma carta ao presidente Eisenhower, apresentando a Operação Pan-Americana, primeiramente como uma tentativa de recompor a unidade continental.

JK apresentava ao presidente americano a necessidade de uma “inversão precursora nas áreas econômicas atrasadas do continente, a fim de compensar a carência de recursos financeiros internos e a escassez de capital privado. A América Latina, que também contribuiria para a vitória democrática, se viu, pouco a pouco, em situação econômica mais precária e aflitiva que as nações devastadas pela guerra, e passou a constituir o ponto mais vulnerável da grande coalizão ocidental”.

JK retomava, nestas últimas linhas, a tese já usada por Vargas de que o desenvolvimento e o fim da miséria eram as maneiras mais eficazes de se evitar a penetração de ideologias exóticas e antidemocráticas, que se apresentavam como soluções para os países atrasados. Em outro trecho, JK sublinhou o desejo do Brasil de ser protagonista do cenário mundial: “Reclamamos o direito de opinar e colaborar efetivamente, o que é imperativo de nação que se sabe adulta e deseja assumir a plenitude de suas responsabilidades em uma política que é sua”.

Diante do pedido brasileiro de maior autonomia, a primeira reação do presidente Eisenhower foi de frieza. Logo, porém, os acontecimentos internacionais o convenceram a voltar nos seus passos. Em Cuba, a guerrilha avançava. Fidel Castro estava preparando-se para conquistar a ilha, o que aconteceria pouco depois do lançamento da OPA, em 1º de janeiro de 1959, marcando o início da Revolução Cubana. Temendo a difusão da ameaça comunista na América Latina, Eisenhower mudou sua atitude em relação à proposta de JK, enviando ao Brasil seu secretário de estado, John Foster Dulles, para indagar como melhorar as relações entre norte e sul.

O primeiro resultado concreto da OPA foi a criação do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, constituído por 20 países americanos, com um capital inicial de um bilhão de dólares destinados ao financiamento e à assistência técnica dos países membros. Outra iniciativa foi a criação, em 1960, da Associação Latino-Americana de Livre Comércio, com a assinatura do Tratado de Montevidéu, pelo Brasil, Argentina, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai. Contudo, além destes primeiros resultados, a OPA não conseguiu avançar como esperado.

As promessas norte-americanas não foram mantidas. JK, em ulterior tentativa de chamar a atenção dos Estados Unidos, buscou ampliar suas relações com a área socialista e os países emergentes do Terceiro Mundo, mas o fez de forma tímida, pois não queria confrontar-se, de fato, com os Estados Unidos. A OPA foi mais um instrumento de pressão, de barganha nacionalista à maneira de Vargas do que uma verdadeira busca de multilateralização. Ele ainda estava ideologicamente muito ligado ao bloco ocidental para querer adotar uma política de verdadeira autonomia em fato de política externa.

A tentativa, por parte dos Estados Unidos, de isolar Cuba no seu contexto regional, deixou JK em uma posição complicada. Ele não ousou contrariar explicitamente o governo norte-americano, preferindo adotar medidas ambíguas que apenas protelassem uma resolução adequada. A situação de JK ficou ainda mais complicada diante da atitude do candidato à presidência da república, Jânio Quadros, de aberta oposição à timidez política de JK. Já antes de ser eleito, Jânio mostrou-se defensor de uma maior autonomia em fato de política externa, visitando Cuba em março de 1960 e, depois, conversando longamente com Krushov em uma sua viagem internacional a Moscou.

Um comentário:

Unknown disse...

muito bom seu esclarecimento, foi-me muito útil para compreender essa etapa e fazer uma boa prova.

Ass...Raphaela
(estudante de História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e estudante de Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá)