quarta-feira, 16 de setembro de 2009

As divergências entre Berlusconi e a Igreja Católica italiana

Há algum tempo, as vicissitudes pessoais do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, são argumentos polêmicos de discussão acirrada entre seus amigos e inimigos políticos. Um escândalo sexual envolveu o primeiro-ministro nesse verão, quando vários jornais publicaram as fotos de Berlusconi ao lado de prostitutas desnudas durante as fabulosas festas por ele organizadas na sua mansão na ilha da Sardenha. O último escândalo, envolvendo também uma menor de idade, resultou no pedido de divórcio por parte da esposa de Berlusconi. Nesse turbilhão de acusações e ataques, os jornais oficiais da igreja católica, após um tempo de silêncio diplomático, não conseguiram ficar em campo neutro.

O jornal católico que denunciou abertamente os mal-feitos de Berlusconi foi o “Avvenire”, órgão oficial da Conferência Episcopal Italiana (CEI). O editorial de denúncia, de autoria do secretário geral da CEI, contra a libertinagem do primeiro-ministro italiano, obrigou o diretor do jornal Avvenire, Dino Boffo, a abrir o dique das pressões e reivindicações dos representantes católicos antiberlusconianos que se subseguiram nas páginas do “Avvenire” contra o primeiro-ministro italiano. Tal posição de denúncia contra o atual governo italiano gerou certo desconforto na Santa Sé, que se viu obrigada a intervir no mais alto nível das relações diplomáticas com o estado italiano. Por isso, o secretário de estado da Santa Sé (cujo cargo corresponde ao ministro das relações exteriores nos outros estados) decidiu marcar um encontro com Berlusconi por ocasião da visita de ambos à cidade de L’Aquila, vitimada por um terremoto no ano passado.

Trilhando o mesmo caminho, o jornal católico, “L’Osservatore Romano”, órgão oficial da Santa Sé, tentou minimizar os boatos que alarmavam sobre o conflito entre o estado Italiano e o Vaticano, distanciando-se da posição dos bispos italianos e tranquilizando a população sobre as relações entre os dois estados. A Santa Sé demonstrou mais uma vez sua orientação pragmática em âmbito internacional, recusando-se a entrar em tal polêmica. Mesmo assim, o jornal de centro-esquerda “La Repubblica” acusou o secretário de estado Tarcisio Bertone de querer sentar à mesa de Herodes, ao invés de acusá-lo publicamente, como fazia João Batista.

Quanto ao jornal “Avvenire”, seu diretor foi difamado pelo jornal “Il Giornale” – de propriedade do irmão de Berlusconi - acusando-o de ter molestado a esposa de um homem com o qual teria mantido relações. Mesmo após a acusação ter sido desmentida publicamente, o diretor do jornal católico preferiu demitir-se. Em sua defesa, acorreram até os tradicionais “inimigos” da igreja católica, os jornais de esquerda, demonstrando que a luta pelo poder tem a capacidade de transformar velhos inimigos em novos amigos e vice-versa. Em suma, como se diz no Brasil, um enorme “rolo” em bom estilo cinematográfico.

3 comentários:

Vinícius Lerina disse...

Há um jogo de interesses, entre quem publica, e quem é alvo de tal publicação, mas o fato, em si, é a falta de moral do Primeiro Ministro Italiano, Silvio Berlusconi, e como contra-ponto a intervenção por parte da Igreja Católica Italiana nesse escândalo. Partindo desse assunto, o que fica é que a Igreja esta correta em comentar tal ato, até por que, faz parte do homem publico, ter de manter sua vida regrada, ser exemplo positivo. Claro, que esse não é o caso do Berlusconi, mas pelo menos deveria ser.

Fernanda Guedes Aguirre disse...

A Igreja Católica italiana não poderia deixar de divergir em relação a Berlusconi.
Já pensou se essa moda pega aqui no brasil? Divergindo sobre nossos políticos! Seria notícia diária no Jornal Nacional.

Alexandre Espinosa disse...

A conduta de um chefe de estado tem de ser quase que irrepreensível, afinal esta em suas mãos as decisões mais importantes com relação ao seu país. infelizmente, esse tipo de comportamento desleixado na vida pessoal tem sido frequente na vida de Berlusconi.