quarta-feira, 16 de julho de 2008

A genialidade de Nicolas Sarkozy

No domingo passado, aconteceu em Paris o lançamento de uma nova organização internacional, inspirada no modelo da União Européia: a União pelo Mediterrâneo. Foi uma iniciativa do presidente francês, Nicolas Sarkozy, em favor da cooperação e da paz mundial. Já no dia após a sua eleição, em maio do ano passado, ele anunciou o sonho de reunir os países banhados pelo Mediterrâneo – os da União Européia, da África e do Oriente Médio - para construir um espaço de segurança, solidariedade e justiça; lugar de discussão para resolver os grandes desafios da mudança climática, do acesso à água e energia, o problema da migração, o diálogo entre as civilizações, numa região estrategicamente importante do ponto de vista político e econômico. No sul do Mediterrâneo originam-se ameaças à paz, e um fluxo continuado de imigração. Mas também é de lá a metade das importações de energia.

Desde a antiguidade, a região do Mediterrâneo foi espaço de encontro entre três continentes: a Europa, a África e a Ásia. Foi o teatro privilegiado das grandes civilizações: da civilização da Babilônia, à civilização grega, à romana e de intensas relações comerciais. Lugar de encontro, portanto, mas, também, de desencontros.

Ainda hoje, o conflito entre Israel e Palestina é uma das maiores preocupações para a estabilidade desta parte do mundo. Foi justamente a vontade de contribuir para a resolução dos conflitos e das tensões internacionais nesta área, que levou o presidente francês a propor a criação desta organização. Pelo número de chefes de estado e de governo que aderiram à iniciativa podemos deduzir que a França não é a única a desejar o restabelecimento de uma paz duradoura na região. Foram bem 43 os países que aceitaram o convite francês para participar do lançamento da primeira cúpula da União pelo Mediterrâneo. São os 27 da União Européia, junto com Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Líbano, Marrocos, Mauritânia, Síria, Tunísia, Turquia, Albânia, Croácia, Bósnia-Erzegovina, Montenegro, Mônaco, além da participação do Presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP).

A abertura da cúpula foi premiada com dois acontecimentos históricos: o primeiro, o aperto de mão entre o presidente libanês Suleiman e o presidente da Síria, Bashar al Assad, ato este que abriu a estrada para a retomada das relações diplomáticas entre os dois países. Os dois presidentes anunciaram a abertura de suas respectivas embaixadas em Damasco e Beirute. Este avanço diplomático marcou o fim de anos de isolamento internacional do governo da Síria, acusado de ter sido o mandante do assassínio do ex-primeiro ministro libanês Hariri, morto em 2005.

Outro evento histórico, realizado com a mediação francesa, foi o encontro entre o presidente palestino Mahmoud Abbas, conhecido também com o nome de Abu Mazen, e o primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert. Após a conclusão do encontro, no qual Israel prometeu a liberação de um grupo de presos palestinos, Olmert e Abu Mazen pronunciaram-se positivamente sobre um possível acordo de paz.

Olmert afirmou que Israel e os palestinos nunca estiveram tão próximos de um acordo de paz. De sua parte, o presidente da Autoridade Nacional Palestina sublinhou que o acordo de paz entre eles é a base fundamental para alcançar a estabilidade mundial, expressando o desejo que, com a ajuda da França, se possa chegar à paz antes do final do ano.

Com estas felizes premissas, a iniciativa de Sarkozy ganhou ainda mais força. Logicamente, os apertos de mão e as promessas não são suficientes para garantir efetivas mudanças nos conflitos. O ceticismo e a desconfiança continuam. Se pensarmos no caso de Israel e da Palestina, logo se percebe que a vontade política de seus governantes deve ser acompanhada de uma mudança radical nas próprias populações, acostumadas a alimentar o ódio e o desejo de vingança. Contudo, como afirmou Sarkozy, “o pior é não fazer nada, deixando espaço para as injustiças e exasperações dos povos”. Ocorre lutar, e lutar juntos. Iniciativas como essas, demonstram que, não obstante os conflitos e as tensões internacionais, o mundo tende à unidade.

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