quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ingrid Betancourt - um sorriso desconcertante

No dia 2 de julho, Ingrid Betancourt, refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), foi finalmente libertada após 6 anos e 4 meses de cativeiro. Mérito de uma espetacular operação militar do governo da Colômbia. As imagens de sua chegada e as suas primeiras palavras emocionaram o mundo. Surpreenderam o rosto sereno, o sorriso meigo e, ao mesmo tempo, a explosão da força vital de uma mulher que conseguiu vencer uma batalha que parecia invencível. Tais imagens contrastavam com suas últimas fotos, que a retratavam doente na selva, aparentemente vencida, fechada num silêncio desesperado. Para ela e os outros 14 reféns, o dia 2 de julho representou o fim de um pesadelo. Destes 14 reféns, três são americanos, os outros são militares colombianos, reféns havia cerca de 10 anos. Um destes, que era também enfermeiro, cuidou de Ingrid durante a fase aguda de sua doença. Em meio a violências físicas e psicológicas praticadas pelos guerrilheiros, a solidariedade entre os reféns sobreviveu. No período em que ela não conseguia mais se alimentar, o soldado enfermeiro cuidou dela de uma maneira extraordinária. Ingrid contou que ele a alimentava da mesma forma que uma mãe faria com a própria criancinha, convencendo-a a comer com a seguinte frase: “Uma colher para Melanie, uma para Lorenzo...”. Melanie e Lorenzo são os filhos de Ingrid, hoje adultos, e que, na época de seu seqüestro, estavam com 16 e 13 anos respectivamente. Seus filhos conseguiram convencer a diplomacia francesa a pressionar o governo colombiano em favor da libertação de Ingrid. Nos últimos anos encontraram um forte aliado em Nicolas Sarkozy. Graças ao apoio dos filhos e da mãe de Ingrid, que todos os dias lhe enviava mensagens via rádio, encorajando-a a não desistir, Ingrid conseguiu lutar momento após momento contra a tentação de desistir, de se deixar morrer. “A morte é a companheira mais fiel de um refém, a tentação do suicídio é cotidiana”, afirmou ela nestes primeiros dias. A vida recomeçou e pelo, que se percebe de suas primeiras entrevistas, recomeçou para valer. Por enquanto, seu primeiro objetivo é recuperar o tempo perdido com os filhos, descansar com eles e com sua família, viajar pela França, onde ela viveu por mais de dez anos. Na Itália, será recebida pelo papa Bento XVI. Ingrid afirmou que sua libertação é um milagre de Nossa Senhora, e agradeceu-a na Capela da Virgem Milagrosa, em Paris. Além do apoio de seus familiares, ela afirmou ter conseguido sobreviver graças à fé, acreditando sempre no amor de Deus. A impressão deixada por uma mulher que é frágil e forte ao mesmo tempo é a de uma heroína, como Nelson Mandela, ao feminino. Ela declarou que após o descanso necessário para revigorar as forças físicas e psíquicas, seu objetivo é voltar à política para servir ao povo colombiano. Quer retomar sua luta política, interrompida com seu seqüestro em novembro de 2002, quando ela disputava a presidência da República da Colômbia. Disse que lutará pela libertação dos reféns que ficaram nas mãos dos guerrilheiros.

Durante os anos de seu cativeiro, a Colômbia alcançou maior estabilidade e segurança. O governo de Álvaro Uribe, baseado na linha dura contra a guerrilha das Farc, ganhou a aprovação de 80% da população colombiana. Segundo analistas políticos colombianos, as Farc estão perdendo força. Fontes oficiais relatam que mais de 9000 combatentes das Farc abandonaram a guerrilha nos últimos anos. A morte de seus chefes mais importantes e a perda de reféns estrategicamente relevantes - como Ingrid Betancourt e os três americanos libertados com ela – são sinais importantes de enfraquecimento dos guerrilheiros. Mas a luta deve continuar e Ingrid quer retomar seu lugar no cenário político colombiano. Ela conquistou o carinho e o apoio do povo colombiano. Aliás, o mundo inteiro parece ter exultado à notícia de sua libertação. A imagem desconcertante do sorriso gracioso de Ingrid Betancourt após tantos anos no cativeiro parece ter penetrado no coração do mundo.

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