quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Eleições no Paquistão

O vencedor da corrida presidencial no Paquistão, nas eleições deste sábado, dia 6 de setembro, foi Asif Ali Zardari, líder do Partido do Povo do Paquistão (PPP) e viúvo de Benazir Buttho, mulher-símbolo do sonho democrático paquistanês, assassinada em um atentado terrorista em dezembro do ano passado. Zardari derrotou Saeed Zaman Siddiqui, o candidato de Nawaz Sharif, ex-premiê e líder do segundo maior partido no Paquistão (Liga Muçulmana do Paquistão Nawaz Pal-N). No início do ano, os dois maiores partidos do país, o PPP e o Pal-N decidiram coligar-se para preparar o impeachment contra o então presidente Musharraf, acusado de violação à Constituição. No mês de agosto, Musharraf decidiu renunciar para evitar o impeachment. A coligação entre os dois partidos teve vida curta, devido, sobretudo, à rivalidade e desconfiança existentes entre as duas correntes políticas. Nawaz Shafir, que decidiu romper a coligação, acusou Zardari de não ter respeitado as promessas feitas, especialmente em relação à reintegração dos juízes que foram afastados durante o governo de Musharraf. O governo de Zardari não começa bem. Sobre ele, gravam sérias acusações de atos de corrupção que teriam acontecido durante os dois governos de sua esposa, quando ele foi ministro por duas vezes. O apelido pelo qual é conhecido, “Senhor 10%”, não deixa dúvidas quanto à sua fama junto à população paquistanês. Além disso, ele foi acusado de ter matado o irmão de sua esposa. Zardari foi preso por mais de dez anos, mas nunca foi condenado. Após ter sido libertado, em 2004, refugiou-se nos Estados Unidos, longe da esposa, sob alegação de tratamento médico. Voltou ao Paquistão com sua esposa Benazir, em 2007, quando Musharraf cancelou, com uma anistia, todos os crimes cometidos por políticos e burocratas de 1988 a 1999. Os dois, porém, não voltaram ao mesmo tempo. O entourage de Benazir aconselhou-a a voltar sozinha, pois o fato do esposo ser uma pessoa bastante contestada no país, poderia, de certa forma, ofuscar o esperado retorno da tão amada líder do país. A própria Benazir não avaliava positivamente o papel político do esposo, pois no seu testamento deixou como herdeiro e sucessor de seu legado político não o esposo, mas o filho Bilawal, hoje com 19 anos. A prematura morte de Benazir, porém, mudou, ao menos por enquanto, o destino de Zardari, que sempre permaneceu à sombra de sua esposa. Logo após a morte de Benazir, Zardari impôs-se como co-presidente, ao lado do filho Bilawal, do Partido do Povo do Paquistão. Quando o filho, Bilawal, decidiu voltar a estudar Direito em Oxford, Zardari completou a sua ascensão ao poder até chegar à eleição. A sua campanha eleitoral, naturalmente, apoiou-se fundamentalmente no legado de Benazir, que permanece como símbolo inconteste do sonho de democracia do povo paquistanês. Ele promete realizar esse sonho, que foi o motivo propulsor pelo qual, em 1967, o pai de Benazir, Zulfikar Ali Buttho, fundou o Partido do Povo do Paquistão. Por tal causa, pai e filha derramaram o sangue. Desde a proclamação de sua independência, em 1947, o Paquistão é cenário de guerra civil. Somente nos últimos 12 meses, os ataques terroristas provocaram 1,2 mil mortos. O mesmo Zardari escapou de um atentado na última semana. Os desafios que ele deverá enfrentar são extremamente complexos: a crise econômica que mantém o país em uma situação de extrema pobreza; a relação instável e perigosa com o poder militar, protagonista na história paquistanês de golpes de estado e reviravoltas políticas; a rivalidade constante com o Pal-N; e, por último, mas não menos importante, a relação conflituosa do governo paquistanês com os extremistas islâmicos. Os seus líderes já demonstraram, por meio de um atentado no dia do resultado das eleições, de não apreciar tal resultado. Com efeito, Zardari confirmou seu papel de interlocutor do governo americano na luta contra o terrorismo, decepcionando o sentimento antiamericano dos extremistas islâmicos. Após os atentados de 2001, contra as Torres Gêmeas, o Paquistão - tradicional aliado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria - voltou a ser um elemento estratégico na política antiterrorista americana. A presença dos contingentes estadunidenses não ajudará certamente Zardari na sua promessa ao povo paquistanês de um futuro de paz e estabilidade política.

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