quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A ditadura das castas

No dia 29 de agosto, as 25 mil escolas católicas da Índia fecharam por 24 horas em protesto contra a onda de violência que envolveu, nas últimas semanas, a população cristã e seus missionários, no Estado de Orissa, situado no leste da República Indiana, junto ao Golfo de Bengala. Igrejas, hospitais e orfanatos cristãos foram destruídos, missionários foram espancados, uma moça que trabalhava num orfanato cristão foi queimada viva. Um padre e uma religiosa, após serem agredidos, foram desnudados e feitos desfilar diante do povo. Mais de 8.000 pessoas tiveram suas casas queimadas. Os autores de tal barbárie são membros de uma organização fundamentalista hindu (Vishwa Hindu Parishad).

Já no ano passado, na véspera do Natal, membros desta organização, liderada por Swami Laxmanananda Saraswati, atacaram uma comunidade cristã. Oito meses após o ataque, no dia 23 de agosto deste ano, o líder hindu foi assassinado por grupos maoístas, na véspera da recorrência do nascimento de Krishna. Os fundamentalistas usaram a morte de seu líder como pretexto para culpar os cristãos, acusando-os de ter se vingado pelo ataque do ano passado. Em seguida, os extremistas hindus atacaram simultaneamente 35 centros cristãos do Estado de Orissa. A polícia não conseguiu conter os atos de violência. O governo do Estado é formado por uma coligação sustentada pelo partido fundamentalista hindu.

Atualmente, a Índia é considerada a maior democracia do mundo. O país oferece centro de excelência na área de tecnologia de informação, exportando seus engenheiros ao mundo inteiro. Porém, o progresso tecnológico e político não conseguiu livrá-la de uma corrupção galopante que se alastra em todo seu território, e que mantém impunes graves atos de violência como os que aconteceram em Orissa.

Na Índia, a modernidade convive com o sistema milenar das castas, que impede a maioria dos indianos de melhorar as próprias condições de vida. A discriminação de casta é proibida pela Constituição, mas rege a vida de 80% de sua população. Cada casta vive separada das outras. O membro de uma casta é definido pelo nascimento. Não se pode mudar de casta ou subir na escala social. Quem rompe tais regras é banido de seu grupo e perde o direito ao trabalho. Quatro eram as castas tradicionais: a casta alta, constituída pelos sacerdotes (brâmanes); a casta constituída pelos guerreiros, que se ocupavam da segurança do povo (kshatriyas); a dos comerciantes (vaishyas); e, por último, a casta formada pelos agricultores (sudras). Além do sistema de divisão da sociedade hinduísta em castas, há, também, os fora da casta (os excluídos) considerados impuros, chamados também de Dalit, e os tribais ou Advasi, ambos usados como escravos pelas castas nobres.

A população do estado de Orissa é constituída por 40% de tribais e Dalit, razão que explica o fato de Orissa ser um dos estados mais subdesenvolvidos da Índia. As comunidades cristãs, nestes últimos anos, ocuparam-se justamente daqueles que os hinduístas consideram impuros e, por isso, nem podem ser tocados. Ofereceram-lhes educação, ajudando-os a reencontrar sua dignidade e suas potencialidades. Graças a esta ajuda, eles começaram a reivindicar seus direitos, recusando a exploração e a opressão econômica e social das castas mais altas. De fato, em todas as localidades de Orissa onde estão presentes instituições cristãs, nos últimos anos foi registrado certo progresso socioeconômico, mudanças sociais recusadas pelo sistema cristalizado das castas hinduístas. Os cristãos foram acusados de usar meios fraudulentos para conseguir prosélitos e convencer os habitantes da região a se converter. Na realidade, as conversões foram poucas. O número de cristãos é inferior a 1% da população de Orissa. Mas eles precisam encontrar desculpas para combater o que mais incomoda os fundamentalistas hindus: a perda do controle sobre o sistema milenar de castas. Nos últimos anos, o grupo dos fanáticos e dos intolerantes hindus parece estar ganhando força no território indiano. Contudo, muitas pessoas, não somente cristãs, mas também de outras religiões - budistas, muçulmanos, e, também, grupos hinduístas que não compartilham o fanatismo e a intolerância dos seus correligionários -, demonstraram solidariedade e apoio às vitimas cristãs. Se alguma culpa os cristãos tiveram, foi somente aquela de ter devolvido um pouco de esperança aos que não tinham mais esperança, ajudando-os, após tanto sofrimento e opressão, a enxergar uma luz de igualdade no fim do túnel.

8 comentários:

Anônimo disse...

Com a novela que recentemente teve seu fim, hoje, sabemos (o Brasil pelo menos) que existem essas tais "castas".Claro, que não pode-se basear numa novela que é mais um romance do que um repasse de informções sobre país qualquer.
Porém, dizer que o mundo deveria saber das "bárbarides" que ocorrem no mundo Indiano, seria dizer o óbvio, já que o tempo parou ao pensar que ninguém pode subir de nível social no maior país democrático do mundo, e esta inácreditavel intolerância religiosa cristã, não que seja necessária, porém a igreja católica se fosse respeitada ou apenas escutada lá , ela passaria a idéia que "todos são filhos de Deus " e etc.. aí já derrubaria a absurda idéia de alguns serem "impuros" ou até mesmo "intocáveis".
Não somente a religião faria este papel assim como a educação. Manter a divisão da população em castas creio que seja uma das causas para que a India tenha dificuldades de se desenvolver, já que apenas uma parcela da população tem direito, dinheiro e "aprovação" para aumentar o nível social.

Mariana Trojan Rodrigues disse...

Com a novela que recentemente teve seu fim, hoje, sabemos (o Brasil pelo menos) que existem essas tais "castas".Claro, que não pode-se basear numa novela que é mais um romance do que um repasse de informções sobre país qualquer.
Porém, dizer que o mundo deveria saber das "bárbarides" que ocorrem no mundo Indiano, seria dizer o óbvio, já que o tempo parou ao pensar que ninguém pode subir de nível social no maior país democrático do mundo, e esta inácreditavel intolerância religiosa cristã, não que seja necessária, porém a igreja católica se fosse respeitada ou apenas escutada lá , ela passaria a idéia que "todos são filhos de Deus " e etc.. aí já derrubaria a absurda idéia de alguns serem "impuros" ou até mesmo "intocáveis".
Não somente a religião faria este papel assim como a educação. Manter a divisão da população em castas creio que seja uma das causas para que a India tenha dificuldades de se desenvolver, já que apenas uma parcela da população tem direito, dinheiro e "aprovação" para aumentar o nível social.

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