quarta-feira, 11 de março de 2009

O internacionalismo de Chiara Lubich (1920-2008)

Neste sábado, dia 14 de março, recorre o 1º aniversário da morte da italiana Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, cujo nome oficial é Obra de Maria. Percorrendo as principais etapas da vida de Chiara, é difícil não se surpreender com a extraordinariedade de sua ação e de sua influência no âmbito internacional, não apenas em nível religioso, mas também político e econômico. Quando, em dezembro de 1943, Chiara consagrou-se a Deus em uma pequena igreja de Trento, sua cidade natal, não imaginava que esta decisão, tomada secretamente, teria gerado um movimento de dimensões mundiais. No seu coração, existia uma única paixão: Deus.

Ela queria desposá-lo e entregar-se a Ele. Não sabia de mais nada. No eclodir da Segunda Guerra Mundial, em um cenário de destruição e de morte, esta paixão por Deus contagiou um pequeno grupo de moças que, seguindo o exemplo de Chiara, também consagraram-se a Deus, dando vida ao primeiro “focolare”. Este nome, dado por quem observava de fora o desenvolvimento do movimento, indica o fogo “espiritual” que existia entre elas, fruto da vivência do Evangelho. “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” era o lema de suas vidas. As palavras do Evangelho que elas liam, à luz de vela nos refúgios antiaéreos, orientavam suas vidas. A página do Testamento de Jesus - “Que todos sejam um” - tocou particularmente o coração de Chiara. Ela compreendeu que a unidade seria o objetivo de sua vida e do Movimento que começava a delinear-se.

Em poucos meses, ao redor de Chiara, formou-se uma comunidade de 500 pessoas empenhadas em transformar em vida as palavras do Evangelho. De Trento, o Movimento começou a espalhar-se por toda a Itália, pela Europa e, em seguida, na América Latina e do Norte, na Ásia e na África. Em um dos primeiros encontros internacionais, nas montanhas de Trento (Dolomitas), em 1959, estavam presentes já dez mil pessoas, com representantes de 27 países, não somente da Europa, mas também de outros continentes. Chiara começou, naquela ocasião, a falar de unidade entre os povos e lançou a proposta de “amar a pátria alheia como a própria”. A partir daí, ela tornou-se uma embaixadora da fraternidade universal, justamente nos anos em que o mundo estava dividido pela Guerra Fria. Os seus primeiros companheiros conseguiram superar a cortina de ferro que dividia a Europa Ocidental e a Europa Oriental, e inserir-se nos diversos âmbitos de trabalho no Leste Europeu.

O agir evangélico dessas pessoas suscitou surpresa e admiração nas autoridades comunistas da época, como se viu nos relatos das autoridades comunistas, publicados após a queda do Muro de Berlim. Em 1961, Chiara encontrou na Alemanha um grupo de pastores luteranos que ficou surpreendido e, ao mesmo tempo, feliz de descobrir que um grupo de católicos fundava a sua vida no Evangelho. Começava assim a atividade ecumênica do Movimento dos Focolares. Logo depois, encontrou em Istambul o Patriarca Ecumênico ortodoxo Atenágoras I. Instaurou-se um relacionamento filial entre os dois que levou Chiara a realizar oito viagens, de 1967 a 1972, como intermediária entre o papa Paulo VI e o Patriarca Ecumênico.

Em 1977, em ocasião do recebimento do Premio Templeton para o progresso da religião, Chiara foi procurada por personalidades do mundo judeu, muçulmano, budista, hindu e sikh e com todas elas iniciou um diálogo profundo. Respondendo a convites dos quatro cantos da terra, Chiara começou então a viajar e difundir o ideal de sua vida: a unidade. Dos templos budistas do Japão e da Tailândia, aos centros hinduístas da cidade de Bombaim, Chiara chegou em 1997 à histórica mesquita muçulmana Malcom X, na cidade de Nova Iorque, onde pela primeira vez uma mulher católica e branca era convidada a falar a muçulmanos afro-americanos. As suas palavras ressoaram até na ONU, onde ela dirigiu-se aos representantes de todas as nações.

Recebeu inúmeros reconhecimentos, da Unesco, do Conselho da Europa e de outras organizações internacionais, além de Doutorados Honoris Causa e Cidadanias Honorárias em diversas partes do mundo. Criou projetos inovadores no âmbito político e econômico de alcance internacional (o Movimento Político pela Unidade e a Economia de Comunhão, surgida no Brasil em 1991). Uma vez, o rei de uma tribo africana que recebeu ajuda de médicos do movimento, perguntou a Chiara: “Como você, que é uma mulher e, portanto, não vale nada, conseguiu fazer tudo isso?”. Ela não se deixou abalar e respondeu: “Não fui eu que fiz essa obra. Deus me fez encontrar uma pessoa, depois outra e guiou minha vida”.

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