quarta-feira, 18 de março de 2009

A política externa brasileira no início da Guerra Fria (1946-1951)

Em 1946, Eurico Gaspar Dutra foi empossado como novo presidente do Brasil. Dutra ocupou o cargo de ministro da guerra de 1936 a 1945. Fez-se porta-voz da redemocratização do Brasil, participando da derrubada do primeiro governo Vargas. Em 1945, candidatou-se às eleições presidenciais junto ao Partido Social Democrático, derrotando o candidato da UND (União Nacional Democrática). As orientações da política externa do governo Dutra refletiram a nova ordem internacional que estava delineando-se nos primeiros anos do pós-guerra, onde os Estados Unidos apresentaram-se como superpotência mundial.

Detentores de uma aviação estratégica capaz de alcançar rapidamente diversos pontos da terra, tendo suas bases navais e terrestres espalhadas em diversos continentes, os Estados Unidos quiseram, no fim da guerra, em uma demonstração desnecessária de força, detonar sua nova arma - a bomba atômica - contra um Japão já derrotado. Além da esfera política, os EUA impuseram as suas regras também no âmbito econômico, com a Conferência de Bretton-Woods, em 1944, e a criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Por meio de tais medidas, os Estados Unidos convenceram os seus aliados a adotarem uma política de livre-comércio, o que permitiu o domínio da economia americana sobre boa parte do planeta.

Neste contexto, o novo governo brasileiro esperava manter, em relação ao país norte-americano, a posição de aliado privilegiado, esperança esta que se fundamentava no apoio dado a Washington durante a Segunda Guerra Mundial. O ministro do exterior brasileiro, Raúl Fernandes, defendeu o alinhamento automático do Brasil às atitudes políticas americanas, adotando uma política de perseguição contra as forças de esquerda que ganhavam espaço no país, assim como os Estados Unidos estavam fazendo em nível mundial. De fato, logo após ter saído de um trágico conflito mundial, o governo americano liderou a criação de um novo conflito que, mesmo sem detonação de bombas, dividiu o mundo por várias décadas.

A Guerra Fria foi desencadeada por uma série de manobras americanas, entre as quais destacam-se o lançamento da Doutrina Truman e o Plano Marshall. A Doutrina Truman concretizou a divisão do mundo preconizada, em 1946, pelo estadista inglês Winston Churchill, que, no seu célebre discurso, anunciava a descida de uma Cortina de Ferro sobre o leste europeu dominado pela política expansionista do líder soviético, Joseph Stalin. O Plano Marshall visava à reconstrução econômica da Europa Ocidental, prometendo ajuda a todos os estados livres que fossem ameaçados por governos totalitários. A ameaça soviética e a defesa do mundo livre foram os ideais propulsores da Guerra Fria.

No Brasil, o governo Dutra, querendo demonstrar-se fiel aos Estados Unidos, lançou - nos moldes americanos - ataques às forças de esquerda do país, caçando os grupos socialistas e comunistas ou quantos demonstrassem empatia com os ideais revolucionários soviéticos, e ilegalizando o Partido Comunista Brasileiro que teve os seus deputados cassados. Por fim, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União Soviética. Tal decisão fazia parte de seu alinhamento com a política anticomunista dos Estados Unidos, estratégia brasileira adotada na esperança de receber ajuda econômica, mas que, de fato, não obteve os resultados esperados.

Osvaldo Aranha, que, naqueles anos, ocupava o cargo de presidente da assembleia geral e chefe da delegação brasileira na ONU, trabalhando em contato direto com os centros de poder estadunidense, compreendeu os verdadeiros mecanismos do jogo político americano. Alertou então, o ministro do exterior, Raúl Fernandes, avisando-o que a política brasileira de considerar o país como um aliado preferencial dos Estados Unidos, não tinha fundamento, pois as prioridades dos Estados Unidos estavam dirigidas à Europa e não à América Latina. Raúl Fernandes não quis dar ouvido a Osvaldo Aranha e chegou a boicotar a sua reeleição à presidência da assembleia geral da ONU.

Contudo, Aranha tinha razão, a linha política adotada pelo presidente Dutra levou o Brasil apenas a entregar a indústria e a economia nacional para o capitalismo estrangeiro sem receber nada significativo em troca. Em Washington, a convicção de que o apoio brasileiro era algo já automático, justificava a ausência de tratamento privilegiado em relação ao Brasil. Somente no segundo governo Vargas, o Brasil retornará a uma política externa mais autônoma e de caráter nacionalista.

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