quarta-feira, 4 de março de 2009

A política externa brasileira do primeiro governo Vargas

Refletir sobre a dimensão internacional da política brasileira pode parecer algo distante da nossa realidade cotidiana. Existe, porém, uma profunda ligação entre a política externa do nosso país e o andamento da economia e da política interna, pois as mudanças no cenário internacional influenciam a vida de todos nós. Basta pensar nas consequências da crise econômica que dos Estados Unidos espalhou-se ao resto do mundo e provocou uma profunda recessão econômica mundial.

Por quase quatro séculos, a partir de sua “descoberta”, a inserção internacional do Brasil aconteceu apenas por meio de potências europeias, antes Portugal e depois a Inglaterra. Com o declínio da Inglaterra como potência hegemônica na Europa, o Brasil voltou-se para os Estados Unidos que, após da vitória na Primeira Guerra Mundial, conseguiram impor sua liderança no cenário internacional. A “aliança não escrita” com os Estados Unidos caracterizou a política externa brasileira até 1930. Naqueles anos, a política externa brasileira pautava-se apenas na busca de mercados novos para escoar a produção cafeeira sobre a qual se baseava grande parte da economia brasileira. O sociólogo e cientista político brasileiro, Helio Jaguaribe, definiu a política externa brasileira da primeira metade do séc. XX como uma “diplomacia aristocrática e ornamental”. Única exceção foi a modesta participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial, já no fim do conflito.

No seu primeiro governo, de 1930 a 1945, Getúlio Vargas procurou transformar a política externa brasileira num instrumento de pressão em favor do desenvolvimento político e econômico do país. Vargas soube aproveitar da favorável conjuntura internacional para barganhar ajudas econômicas importantes e colocar sólidas bases para a incipiente industrialização do país.

Mesmo sob uma tácita, mas ainda não bem definida influência americana, o Brasil incrementou suas relações comerciais com a Alemanha, sobretudo nos anos de 1934 a 1938. Quanto às relações políticas entre os dois países, em 1938, houve uma crise diplomática causada pela proibição, em favor da política nacionalista lançada por Vargas, da atuação do partido nazista e de sua propaganda junto às colônias alemãs presentes no sul do Brasil. Tal crise foi um dos fatores que marcaram a aproximação do Brasil ao governo dos Estados Unidos, estimulada também pela ascensão ao Ministério das Relações Exteriores de Osvaldo Aranha, que era um simpatizante do país norte-americano. A aproximação, porém, não foi automática. Em 11 de junho de 1940, Getúlio Vargas pronunciou um discurso no qual elogiou os sistemas totalitários e previa o fim das democracias. Tais palavras naturalmente alarmaram o governo norte-americano enquanto pareciam evidenciar um alinhamento político com as potências do Eixo, Alemanha e Itália, ambas governadas por regimes totalitários.

Todavia, o governo Vargas apressou-se em tranquilizar os Estados Unidos esclarecendo que o discurso era dirigido apenas ao público interno com a intenção de fortalecer o Estado Novo proclamado por Vargas três anos antes. Na realidade, o discurso de Vargas, além de se dirigir ao público interno, foi estrategicamente pronunciado logo após a vitória da Alemanha sobre a França democrática. Vargas continuava seu jogo político que o levava ora em direção à Alemanha ora em direção aos Estados Unidos avaliando de quem poderia tirar as melhores vantagens para realizar seu projeto nacional-desenvolvimentista. O jogo funcionou.

A Alemanha fez pressões para que o Brasil mantivesse sua neutralidade, mas quanto às ajudas econômicas, o Brasil deveria esperar até o fim da guerra. Os Estados Unidos que, no momento não estavam ainda empenhados num conflito mundial, conseguiram convencer o Brasil a mudar de lado concedendo ajuda financeira para a construção de uma usina siderúrgica no Brasil e fornecendo armamentos para modernizar as Forças Armadas brasileiras. A cooperação militar entre Brasil e Estados Unidos iniciou de fato somente após o ataque japonês de Pearl Harbour, em 1941. No ano seguinte, o Brasil, convencido da vitória do aliado americano, rompeu as relações diplomáticas com as potências do Eixo e aceitou participar ao lado dos aliados americanos do Segundo Conflito Mundial.

Um comentário:

Matheus Anversa disse...

Não é por acaso que meus avós exaltam tanto o ex-presidente Getúlio Vargas, sua forma de governo é sem duvida genial. Durante a primeira guerra, Getúlio conseguiu estabelecer contatos com os dois lados tirando sempre um bom proveito disso.
O governo Getúlio usou bem a guerra para estabelecer alianças com os EUA e com a Alemanha também, o desenvolvimento econômico do Brasil na época e a estabilidade no governo renderam a Getúlio um segundo mandato, dessa vez de maneira legitima.
Abraços.
Matheus Anversa.