quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Bento XVI na Cúpula da ONU sobre Segurança Alimentar

Na segunda-feira, dia 16, o papa Bento XVI chegou ao palácio da FAO (Food Agriculture Organization), em Roma, respondendo ao convite do seu diretor-geral para falar na sessão de abertura da Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar. Não obstante a presença de 60 países, entre os quais o Brasil, não passou despercebida a ausência dos países do G8, como Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia, etc. Desse grupo, apenas a Itália participou.

O papa Bento XVI foi acolhido pelo Diretor Geral da FAO, Jacques Diouf, que, agradecendo ao Pontífice de ter acolhido seu convite, sublinhou como a presença do papa “conferia a esta cúpula uma forte dimensão espiritual para enfrentar o problema da fome no mundo”. Ele sublinhou que a Igreja Católica possui consonância de visões com a FAO, por isso a presença de seu representante máximo, o papa, “permitirá também de elevar a luta contra a fome no mundo a um nível de responsabilidade coletiva e de ética que transcenda o que está em jogo e os interesses nacionais e regionais, para reafirmar com voz clara e forte o direito à alimentação, o primeiro dos direitos do ser humano”.

No seu discurso - definido por um jornalista como “uma denúncia clara e realista de uma situação intolerável” -, Bento XVI enfrentou o tema da fome lembrando que “a terra pode suficientemente nutrir todos os seus habitantes. De fato, mesmo se em algumas regiões permaneçam baixos os níveis de produção agrícola, também por causa de mudanças climáticas, globalmente a produção é suficiente para satisfazer seja a necessidade atual seja aquela previsível para o futuro. Tais dados indicam a ausência de uma relação causa-efeito entre o crescimento da população e a fome, o que é confirmado também pela destruição de alimentos em função do lucro econômico”.

O papa Bento XVI fez um apelo aos governantes da terra para que se repense o conceito de cooperação entre países ricos e pobres: “Tal conceito deve ser coerente com o princípio da subsidiariedade: é necessário envolver as comunidades locais nas escolhas e nas decisões relativas ao uso da terra cultivável. A cooperação deve se tornar instrumento eficaz, livre de vínculos e interesses que possam absorver uma parte não desprezível dos recursos destinados ao desenvolvimento”.

Em seguida, Bento XVI alertou sobre o perigo de se considerar o problema da fome no mundo como algo estrutural: “Há o risco que a fome seja considerada como parte integrante, estrutural, das realidades sociopolíticas dos Países mais fracos, objeto de um sentido de resignado desconforto, se não até de indiferença. Não é assim, e não deve ser assim! Para combater e vencer a fome, é essencial começar a redefinir os conceitos e princípios até agora aplicados nas relações internacionais, para poder responder à interrogação: o que pode orientar a atenção e sucessiva conduta dos Estados nas necessidades dos últimos? A resposta não deve ser procurada no perfil operativo da cooperação, mas nos princípios que devem inspirá-la: somente em nome da pertença comum à família humana universal pode-se pedir a cada povo e, portanto, a cada país de ser solidário, isto é, disposto a carregar-se de responsabilidades concretas em ir ao encontro das necessidades alheias para favorecer uma verdadeira partilha fundada no amor”.

Bento XVI definiu a fome como o “sinal mais cruel e concreto da pobreza”. “Não é possível”, disse ainda “continuar a aceitar opulência e desperdício”. Concluiu afirmando que a Igreja Católica “não pretende interferir nas escolhas políticas. Ela é respeitosa do saber e dos resultados das ciências, como também das escolhas determinadas pela razão, responsavelmente iluminadas pelos valores autenticamente humanos, voltados ao esforço para eliminar a fome”.

O papa-teólogo, na FAO se revelou como o papa prático do internacionalismo da luta concreta contra a fome no mundo, escândalo da humanidade.

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