quarta-feira, 16 de abril de 2008

Eleições na Itália: venceu o bipolarismo

Segunda-feira, com a divulgação dos resultados das eleições na Itália, delineou-se um novo cenário para a política italiana. O tradicional panorama fragmentado que sempre caracterizou a Itália, pela presença - ao lado de alguns grandes partidos - de inúmeros mini-partidos fundados em nome de uma aparente representatividade, cedeu o lugar a um cenário diferente, com duas forças políticas principais: O “Popolo delle Libertà” de Silvio Berlusconi, que venceu as eleições, e o Partido Democrático liderado por Walter Veltroni, até então prefeito de Roma.

O governo anterior, que durou pouco menos de dois anos, caiu justamente pela fragmentação política e falta de unidade de programas e decisões no seio da maioria parlamentar. Este fracasso político, que só agravou a já preocupante situação dos italianos – a economia italiana registrou, nestes últimos anos, o pior momento desde o fim da segunda guerra mundial –, levou os candidatos a rever as habituais coligações e a tomar a corajosa decisão de cortar com o mau costume de coligações úteis só para vencer, mas não para governar. Neste sentido, mesmo não ganhando as eleições, Walter Veltroni registrou um grande sucesso por ter tido a audácia de recusar coligações com antigos aliados, como a esquerda conservadora de Fausto Bertinotti, protagonista de reviravoltas políticas que levaram várias vezes à queda de governos passados.
A única coligação feita pelo Partido Democrático foi com o partido “Italia dei Valori”, de Antonio de Pietro – magistrado símbolo da Operação Mãos Limpas -, que obteve um crescimento inédito, recebendo mais que o dobro de votos obtidos nas eleições de 2006. Os dois partidos desempenharão o papel de oposição, e tudo faz esperar que seja uma oposição forte, porque unida e com objetivos bem definidos. Os líderes da oposição já declararam oficialmente que trabalharão como grupo político único, mesmo sendo de partidos diferentes. Fora desta coligação de oposição, permaneceu no parlamento também outro partido de oposição ao governo que decidiu concorrer sozinho. A UDC, União dos Democratas Cristãos, liderada por Pierferdinando Casini, desta vez não aceitou coligar-se com Berlusconi.

A coligação vencedora é constituída por três partidos: o “Popolo delle Libertà”, de centro-direita, que nasceu da união dos antigos partidos “Forza Italia”, de Berlusconi, e “Alleanza Nazionale”, de Gianfranco Fini; o partido “Lega Nord”, de Umberto Bossi, que registrou um crescimento surpreendente; e o “Movimento pela Autonomia”, de Raffaele Lombardi, um grupo político recém criado que luta em favor da autonomia do sul da Itália.

Seis partidos organizados em cinco grupos parlamentares ocuparão o cenário político italiano após as eleições políticas de abril de 2008. Uma verdadeira revolução, já que saíram de cena - não tendo ganhado nenhuma cadeira nem na Câmara nem no Senado - a esquerda comunista, a extrema direita (herdeira do fascismo) e o partido socialista, protagonistas que ocuparam até então lugar de destaque na história política italiana.Menos fragmentação, mais unidade e abertura ao diálogo, menos polêmica e mais empenho em trabalhar pelo melhoramento das condições de vida dos italianos. São estes os ingredientes nas mãos dos políticos italianos, elementos favoráveis para estabelecer as regras de um bom governo e oposição. Além disso, registra-se entre os que ganharam o dever de governar ou o de fazer oposição um sentimento de satisfação por ter sido alcançado um objetivo importante, o bipolarismo - elemento chave nas melhores democracias modernas. O líder do maior partido de oposição, o Partido Democrático, Walter Veltroni, ao tomar conhecimento dos resultados das eleições, telefonou para o vencedor, Silvio Berlusconi, desejando-lhe um bom trabalho. Também este simples gesto, que pode parecer apenas boa educação, representou, na Itália, algo a mais. Significou que, desta vez, estas eleições não serão seguidas por polêmicas sem fim, mas pelo empenho político da oposição de colocar de lado as divergências e iniciar desde já a trabalhar pelo bem de toda a Itália e de todos os italianos, inclusive os residentes no exterior.

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