quarta-feira, 9 de abril de 2008

O último encontro entre Bush e Putin

O presidente americano George W. Bush e o ex-presidente russo Vladimir Putin, encontraram-se, na semana passada, em ocasião do encontro dos líderes da OTAN que se realizou em Bucareste, capital da Romênia. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foi criada logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1949, em plena Guerra Fria, com o objetivo de garantir, por meios políticos e militares, a defesa da segurança e liberdade dos seus estados-membros. Hoje em dia, mesmo não existindo mais a Guerra Fria, e, portanto, a divisão bipolar entre Estados Unidos e Rússia, a OTAN continua existindo. Atualmente, fazem parte da Organização, além dos países da Europa e da América do Norte, também estados que, na época da criação da OTAN, integravam a esfera de influência soviética como a República Checa, a Polônia, a Lituânia, Estônia, Eslovênia, Romênia, Hungria, etc. Países que fugiram, num certo sentido, da proteção russa para entrar a fazer parte do grupo do Ocidente. Naturalmente, esta fuga não satisfez a Federação Russa (ex-União Soviética), que, por meio do governo de Vladimir Putin, tentou, nos últimos anos, reconquistar os antigos aliados e retomar relações pacíficas com as regiões que se separaram da Rússia. Entre estas, estão a Ucrânia e a Geórgia, cujo pedido de adesão à OTAN, discutido no último vértice, constituiu um forte motivo de divergência entre os Estados Unidos, a Rússia e os países europeus membros da OTAN. Foi a última “briga” entre Bush e Putin. Ambos estão deixando a presidência das duas superpotências, protagonistas indiscutíveis do final do século XX. Mesmo com a participação do novo presidente russo eleito, Dimitri Medvedev, Putin não quis perder a chance de estar presente no vértice, expressando a sua indignação frente às tentativas americanas de expandir as fronteiras da OTAN até os confins russos. A Rússia se declarou contrária à aceitação da Ucrânia e da Geórgia na OTAN. O pedido de entrada da Ucrânia veio do próprio presidente ucraniano, o democrático Yushchenko que, em 2005, vencendo as eleições, completou, de certa forma, a aproximação ucraniana aos países ocidentais. O seu pedido de adesão recebeu o apoio incondicional de Bush que não escondeu que esta questão era umas das prioridades do vértice. Todavia, os membros europeus da OTAN, perceberam o que esta adesão significaria para a ordem mundial. A aceitação da Ucrânia seria, segundo eles, “uma provocação desnecessária” à Rússia, visto que a Ucrânia e a Geórgia não atendem ainda aos requisitos para a entrada na Organização. Putin pôde respirar aliviado, ao menos por enquanto. A Ucrânia é um país que é importante não somente do ponto de vista geopolítico – ela representa uma zona-tampão entre a Europa e a Rússia -, mas também do ponto de vista econômico, sendo o mais importante mercado para a Rússia, dado que três quartos das exportações de gás natural russo passam pela Ucrânia.

Outro ponto de divergência foi a proposta americana de instalar escudos antimísseis na Polônia e na República Checa para garantir a segurança da Europa contra eventuais ataques do Oriente Médio. Os dois países interessados aceitaram, mas Putin se declarou contra, afirmando que o escudo antimíssil seria uma ameaça à Rússia.

Após a conclusão do vértice da OTAN, Putin recebeu o presidente Bush na localidade de Sochi, no Mar Negro, para uma conversa possivelmente resolutiva dos pontos contenciosos. Quem esperava um final feliz, ficou decepcionado. O acordo não veio, mas nem tudo está perdido. Putin e Bush quiseram deixar abertas as portas do diálogo e prepararam uma declaração final que servirá de base para os novos líderes da Casa Branca e do Kremlin. Apesar das divergências, quiseram deixaram a imagem de dois líderes políticos que - não obstante a tradição histórica que os enquadra como inimigos - conseguiram manter uma relação amigável. A Europa, de outro lado, saiu deste vértice mais unida, orgulhando-se de ter agido unanimemente em favor do equilíbrio mundial, enfrentando a vontade americana que, desta vez, não conseguiu ditar lei.

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