sábado, 5 de janeiro de 2008

O mundo, nossa casa

Desde pequena, convivi com pessoas de países diferentes do meu. Nasci em Roma, na Itália, e lembro das vezes que, ainda criança, pegava o ônibus com a minha mãe. Todas as vezes, em uma determinada parada, o ônibus lotava de padres e religiosas que falavam línguas estranhas para mim. Ficava encantada olhando aqueles rostos diferentes, de pele morena, ou de olhos puxados. Para não falar dos turistas estrangeiros, que no trajeto do Vaticano até a Estação Central de Trem, onde estava minha escola, ocupavam tanto o ônibus que, às vezes, eu e minhas colegas descíamos antes da parada e caminhávamos até o nosso colégio.

Roma é, por excelência, uma cidade internacional e foi, talvez, por esta sua influência que não tive dúvidas em decidir por estudar línguas estrangeiras já a partir do ensino médio. Não sabia ainda que profissão escolheria no futuro, mas me parecia que, estudando os vários idiomas, conseguiria abater ao menos as barreiras lingüísticas que me separavam dos povos vizinhos. Estudei, então, inglês, francês e alemão. Lembro-me de uma noite em que, sentados em uma pizzaria, eu e os meus amigos percebemos que éramos em dez pessoas, mas de sete idiomas diferentes, e que, para podermos ter uma conversa legal, teríamos que escolher qual seria o idioma comum. Naquela noite, venceu o francês.

O contato constante com pessoas de países diferentes despertou em mim a curiosidade não somente de conhecer a língua do país, mas sua história, sua cultura, suas tradições, percebendo que, na maioria das vezes, o que nos parece tão distante e diferente, na realidade, é muito próximo e similar às realidades do nosso cotidiano. Comparando o meu dia-a-dia àquele dos tantos estrangeiros que encontrei ao longo destes anos, aprendi a valorizar coisas que antes menosprezava e, ao mesmo tempo, a não dar valor demais a coisas que antes me pareciam indispensáveis.

Um dia, quando já estava na universidade, visitando um amigo nas proximidades de Roma, conheci um rapaz chinês que me contou sua história. Ele fora membro da Companhia de Balé de Pequim, do Exército Vermelho da República Popular da China. Dançava desde criança. Em uma das turnês que a sua companhia fizera na Europa, ele decidiu fugir. Não agüentou a falta de liberdade em seu país. Foi acolhido em um centro de refugiados de uma cidade do litoral romano. Quando lá chegou, ele só sabia expressar-se em chinês. Nem inglês conhecia.

Ninguém o entendia, mas, lentamente, com a ajuda dos jovens do lugar, após meses de silêncio forçado, aprendeu a se comunicar em italiano. Quando o conheci, ele estava esperando o visto para se mudar definitivamente para o Canadá. Contei-lhe que eu havia recém começado a estudar chinês na universidade, e ele quis me recitar um antigo poema chinês sobre o amor pelo próprio país e a dor de ser obrigado a nunca mais voltar.

Descobri, talvez pela primeira vez, de maneira tão profunda, o valor inestimável da liberdade e conheci a dor de uma porção enorme da humanidade, representada naquele jovem chinês, que vivia sob um regime ditatorial. Aprendi que a nossa vida não acaba nos confins do nosso país, da nossa cidade, mas que é estritamente ligada à vida de toda a humanidade, distribuída nos mais de 200 países que formam o nosso mundo. ‘Nosso Mundo’ escolherá fatos internacionais para serem compreendidos sob a ótica do que chamo de paradigma da unidade que, em poucas palavras, significa ver o mundo pelo que ele é: casa da humanidade; e não pelo que ele não é: campo de batalhas políticas, econômicas, religiosas.

6 comentários:

AlanMartins disse...

"Aprendi que a nossa vida não acaba nos confins do nosso país, da nossa cidade" essa é uma frase que acredito que todos na vida deveriam descobrir o significa e vive-la realmente. É uma experiência libertadora.

Lauren Dutra disse...

Sempre tive muito contato com pessoas de varias nacionalidades,com idiomas e culturas diferentes e isso me ajudou a aprender muita coisa como a respeitar as pessoas e muito mais.Também despertou em mim um enorme interese pelo estudo de linguas e também a história de outros países.
Acho extremamente importante aprender de tudo nesta vida conhacer culturas diferentes,lugares diferentes,isso enriquece uma pessoa culturalmente.
O fato de eu gostar tanto disso tambem me ajudou na escolha do curso de relações internacionais.Sem dúvidas será uma ótima oportunide de obter mais conhacimento sobre outras culturas e outros países.

Lauren Dutra

Unknown disse...

Santana do Livramento,por ser fronteira com um outro país da a seus habitantes também a oportunidade de conviver com pessoas de culturas diferentes.A mim me passou o mesmo do que a professora,esse contato com tantas pessoas e culturas diferentes tambem despertou em mim a curiosidade de estudar linguas e a história de outros países,e também na escolha do curso que estou afzendo e da minha futura profição.
Interesante também o que escreveste sobre dar valor por vivermos em um lugar livre onde podemos viver de acordo com nossa própria vontade desde que ,claro ,estja dentro das leis.

Lauren Dutra

Unknown disse...

Pois é prof., as relações internacionais mostram que historicamente desde que existem cidades, nações, cada povo parece que se esquece que o mundo é um só, casa da humanidade, e em uma visão egoísta totalmente infundada divide, briga, tenta proteger o que é seu, ignorando que o que está fora de suas fornteiras também é seu! E o que está no seu território também é do resto da humanidade! Quem somos nós para decretarmos que um ser humano, filho deste planeta, não pode andar livremente por aí, contemplando todas as belezas que ele nos oferece!
Tudo pelo egoísomo do homem, que em sua constante luta por poder acabou por moldar um mundo fragmentado, isolado e em decadência.
Mesmo falando em globalização e quebrando muitas barreiras que antigamente seriam impossíveis, ainda estamos longe de um mundo que desperte para a urgência de uma nova consciência, pensarmos como "Raça Humana", uma nação gigante e rica, mas que acabou por se tornar um "Cancêr" para nosso planeta.
Por outro lado, esta fragmentação possibilitou, que em seu isolamento, países formem culturas totalmente diferentes, com costumes, línguas, modo de agir específicos e bem definidos.
Aqui em nossa fronteira, a maioria das pessoas "já ganha um idioma de graça", o espanhol, pois convivemos diariamente com a cultura e idioma do Uruguai. Também é forte aqui na cidade a cultura muçulmana. Enfim, somos um "prato cheio" para quem gosta de conviver com várias culturas diferentes, mas em certos lugares, há povos que são muito fechados para sua cultura a ponto de considerar o modo de agir do resto do mundo errado, outra vez esquecendo que em essência, somos todos iguais, viemos do mesmo lugar e vamos para o mesmo lugar, A terra!

Felipe Albornoz
Aluno de comex/RI

Unknown disse...

Atualmente percebo que mesmo com as maravilhas da tecnologia e da informação, grande parte das pessoas considera, sem perceber, que o seu "universo" se resume ao seu bairro/cidade , tradições , religiões , televisão (manipulação em massa , como já comentei em aula) dentre outras coisas. Sem perceber que há todo um universo a volta, esperando pelo interessado e o curioso para desbrava-lo.

"O Céu é meu teto; a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião" ditado cigano

Rodrigo Kilca disse...

Prof. Anna, eu quando fui a suiça também passei pelo mesmo problema de seu amigo chinês, pois não tinha o mínimo conhecimento da língua alemã, e por mais que a maioria das pessoas com qual eu convivia falavam inglês, você se sente distante de todos por não poder se comunicar no mesmo idioma ou por não poder participar de todas as conversas que existiam na turma, e todas as pessoas tinham que trocar de língua para poder me introduzir na conversa, e com é esse tipo de situação que nos faz sentir mais vontade de estudar não só a língua do pais para poder se comunicar sem dificuldades com todos, mas também estudar a história do pais, o costume do povo e de todo aquele lugar.