quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Loppiano: cidade da fraternidade

Durante a minha viagem, pude fazer passeios em algumas das cidades mais graciosas da Itália. Nelas, havia sempre alguma igreja importante, ou era a cidade natal de algum santo: como Cassia, a cidade de Santa Rita; Assis, de São Francisco; Norcia, de São Bento; Pietralcina, de Padre Pio. São lugares sugestivos e que oferecem alguma mensagem preciosa, um modelo de vida diferente. Mas devo dizer que o que mais me impressionou nestas breves viagens foi a visita a um lugar diferente, uma pequena cidadezinha localizada nos arredores de Florença, no meio das colinas toscanas. Esta localidade recebeu o nome de Loppiano, pelas árvores “Loppi”, que caracterizam o seu território. Ela não possui nenhum dos belíssimos e antigos monumentos que fizeram de Florença uma das cidades mais bonitas do mundo. Mesmo assim, Loppiano atrai milhares de visitantes da Itália, Europa e, também, de outros continentes. Fundada nos anos 60 nas terras que um jovem descendente de uma famosa família de produtores de vinho doou para a sua construção. Quem teve a idéia da construção desta cidade foi Chiara Lubich, a fundadora de um novo movimento católico nascido na Itália, mas que se expandiu logo no mundo inteiro. O que carateriza esta localidade vem logo à tona nos primeiros momentos de visita: a internacionalidade e a fraternidade! Assim que cheguei lá, as primeiras pessoas que vi foram de uma família de orientais que entraram no pequeno supermercado da cidade. Na lanchonete, onde fui tomar um cafezinho, atrás do balcão estava uma brasileira de Londrina junto com uma moça da Colômbia. Na livraria ao lado, estava um africano. Após alguns momentos, passou por mim um grupo da Hungria, que estava visitando a cidade. Em suma, em poucos minutos, havia encontrado pessoas de vários continentes. Após o café, veio ao meu encontro um sorridente senhor, que logo descobri ser um brasileiro originaário de Pernambuco. Ele havia passado 18 anos no sudeste asiático, responsável pela difusão do espírito de Loppiano em vários países daquela regiao: Tailandia, Birmania, Vietnam, Laos, etc. Atualmente, encontrava-se em Loppiano por motivos de estudo. Foi ele quem me acompanhou na descoberta desta pequena localidade, descrevendo-me suas características principais. Loppiano tem cerca de 800 habitantes de 70 nacionalidades, na maioria jovens que escolhem passar cerca de dois anos. É uma espécie de centro de formação para aprender a viver a cultura da fraternidade e podê-la levar nos próprios países de origem ou em outras naçoes. Ao lado destes jovens, vivem estavelmente cerca de 70 famílias de diferentes nacionalidades, que decidiram fixar a própria residência nesta localidade. Vivem também em Loppiano numerosos empresários que estabeleceram ali a própria empresa, assim como alguns artistas, escultores, pintores e músicos que querem fazer de sua arte um instrumento de difusão deste espírito de fraternidade. A arquitetura do lugar é caraterizada pelas casas típicas da região toscana, onde encontram hospitalidade também os que vem passar em Loppiano apenas um fim de semana ou alguns meses. Para a cidade se auto-sustentar, foram criadas pequenas empresas onde trabalham os habitantes fixos e temporaários de Loppiano. Empresas de produção do famoso vinho da região, o Chianti, empresas de artesanato em madeira, de moda, de produtos para bebês, etc. Nivaldo, o pernambucano que me guiou neste passeio tão peculiar, dizia-se que a vida da cidade baseava-se em uma única lei, a Regra de Ouro comum a várias religiões: “Faz aos outros aquilo que tu gostarias que eles fizessem a ti”, tentando atuar em cada relação o princípio da reciprocidade e da fraternidade entre pessoas de diferentes nações. Mesmo a cidade tendo as suas raízes em um movimento católico (o Movimento dos Focolares), ela recebe, justamente pela relevância dada à Regra de Ouro, pessoas de outras denominações cristãs e de outras religiões, como também pessoas que não possuem nenhuma convicção religiosa, mas que compartilham o mesmo desejo de atuar uma cultura mais fraterna. Passei somente um dia ali, mas conversei com várias pessoas que me contaram suas vivências, suas dificuldades e suas alegrias nesta cidadezinha tão fascinante. Posso definir Loppiano como um laboratorio onde se experimenta o princípio ativo de uma nova cultura, a cultura da fraternidade entre pessoas de diferentes nacionalidades. Após o período de formaçao, cada um destes jovens parte para o seu pedaço de mundo para levar este princípio ativo já brevetado, e fazê-lo conhecer nos seus lugares de destino. Saí de lá com o mesmo desejo.

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