quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

2008: Jogos Olímpicos em Pequim

Este ano a cidade de Pequim, capital da República Popular da China, hospedará a nova edição dos Jogos Olímpicos. A cidade está se preparando deste 2001 – ano em que o Comitê Olímpico decidiu aceitar a candidatura chinesa – para acolher este grande evento, numa atividade febril de construção de novos estádios e mudanças estruturais da mais importante cidade chinesa. Mas este grande evento, que acontece a cada quatro anos, é importante não somente pelos diferentes atletas que participarão dele, e que têm nas Olimpíadas a possibilidade do coroamento de seus esforços e treinamento, mas, também, do ponto de vista internacional, pelas relações entre os vários países do mundo que enviarão seus melhores atletas.

De fato, desde as suas origens, na antiga Grécia, os Jogos Olímpicos tinham como objetivo buscar a paz e a harmonia entre as várias cidades gregas que competiam entre elas. Com o tempo, mesmo passando por guerras mundiais e divisões políticas, os Jogos Olímpicos continuaram a simbolizar uma etapa importante de união entre os povos. A própria bandeira olímpica nos lembra o desejo de união através dos cinco anéis entrelaçados e de cores diferentes que representam os cinco continentes.

Para a República Popular da China, o fato de ter tido a própria candidatura aceita pelo Comitê Olímpico, para hospedar a maior manifestação esportiva mundial, representou um passo a mais em direção à sua aceitação e integração no cenário internacional. Naquela ocasião, em Moscou, o representante oficial das autoridades chinesas fez importantes promessas, entre as quais a de melhorar a situação dos direitos humanos no país. Assim, ele declarou: “Confiando a Pequim a organização dos Jogos Olímpicos, participareis no desenvolvimento dos direitos humanos”.

Este tema sempre foi motivo de polêmica entre a China e os seus principais parceiros econômicos. Os Estados Unidos e a União Européia, de maneira especial, em diferentes ocasiões, apresentaram suas queixas ao governo chinês reclamando da violação dos direitos humanos que ainda é praticada no país. As autoridades chinesas respondem às acusações de violação dos direitos humanos afirmando que tais acusações não possuem fundamentação pois a concepção ocidental dos direitos humanos não corresponde àquela oriental, chinesa.

As promessas feitas pelo governo chinês em 2001 em Moscou fizeram esperar que a China decidisse tomar medidas necessárias ao melhoramento da situação dos direitos humanos. É verdade que as coisas estão melhorando, a China vem mudando lentamente. As leis trabalhistas estão sendo modificadas a favor de seus trabalhadores até agora explorados por meio também da cumplicidade das multinacionais. O governo chinês está se sensibilizando quanto à questão ambiental e à renúncia do uso indiscriminado da pena de morte. As mudanças, porém, tem um limite na China: não podem atingir o poder do Partido Comunista, que permanece intocável. É neste limite que os direitos humanos perdem para as autoridades chinesas toda possibilidade de ser considerados como tais, mesmo na véspera de uma manifestação tão importante como são os Jogos Olímpicos.

O governo chinês decidira prender todos os subversivos, isto é, todos aqueles que tentam avisar a opinião pública internacional que a China não estaria respeitando as promessas feitas em 2001.
Um jornalista francês, Robert Ménard, secretário geral dos “Reporters sans frontiéres”, denunciou nestes dias a prisão de dois ativistas chineses, conhecidos internacionalmente.

O primeiro é um jovem engenheiro de 34 anos, Hu Jia. Trinta policiais à paisana entraram na sua residência e o prenderam, após terem bloqueadas as linhas telefônicas e a conexão Internet de Hu Jia. Após a prisão, a esposa dele com a filhinha de dois meses, foram mantidas sob vigilância. Os jornalistas e a diplomacia estrangeira os conheciam pela sua atividade em favor da luta pela liberdade de expressão. Hu Jia e sua esposa estavam felizes pela realização dos Jogos Olímpicos na China, pois acreditavam que seria uma ocasião propícia de crescimento para o país. Além de Hu Jia, foi preso também Wang Deqia, acusado de ter publicado na Internet um artigo com o seguinte título: “Estes Jogos Olímpicos algemados trarão somente sofrimento à população”.
A prisão destas pessoas, deveria, segundo o jornalista francês, despertar a indignação do Comitê Olímpico que, ao contrário, parece permanecer em silêncio, indiferente a estes pedidos de ajuda.

O governo chinês parece ter esquecido as promessas feitas, aliás, decidiu reforçar a sua defesa contra os eventuais ataques nacionais e internacionais. As autoridades, de fato, decidiram fichar todos os jornalistas estrangeiros e criar uma lista negra dos defensores estrangeiros dos direitos humanos.

Construir novos estádios e embelezar a cidade, não significa, portanto, renunciar à linha dura. Ao longo da história deste país, nos momentos de grande abertura ao exterior, o governo sempre reforçou suas defesas para não permitir que tal abertura se transformasse em ocasião para seus habitantes mostrarem o verdadeiro vulto do país, suas divisões internas, não somente entre a população e o governo, mas dentro do próprio governo.

Lembramos aqui os fatos de Tiananmen (1989) ocorridos em ocasião da visita do presidente soviético Gorbachev, quando a União Soviética estava abrindo-se à democracia e ao capitalismo. Talvez a China tema que os Jogos Olímpicos possam se transformar em uma segunda Tiananmen. Desta vez, porém, o Partido Comunista da China certamente não sobreviveria a um segundo massacre.

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